Páginas

quarta-feira, 23 de março de 2011

Cinderelas

Cinderelas

Sempre admirei muito as damas do crime. Numa de suas entrevistas, P. D. James fala que o gosto pelo detalhe e o interesse pelas emoções explicam o sucesso das mulheres nas histórias detetivescas. Será que o olhar feminino dá qualidade à literatura policial?
A Própria P. D. James responde: “Na história detetivesca clássica, que depende de pistas cuidadosamente distribuídas e raciocínio preciso para criar uma trama, as mulheres realmente têm se saído muito bem. Talvez porque nós sejamos interessadas nas emoções humanas, em vez de nas armas ou na violência. Nós tratamos da reação das pessoas ao crime. E claro que a criação de pistas depende de ter um olho para o detalhe e as mulheres são detalhistas.”
Agora que Peças Fragilizadas está começando a fazer parte das histórias de detetive bastante lidas, mais uma vez pensei nas minhas inspiradoras damas. P. D.James está com quase 90, anos e no seu site oficial está lançando um novo livro. Eu gostaria muito de chegar lá!
Como eu, ela também é uma Cinderela. Nós sempre pensamos em Cinderela como a mulher fútil sonhando com o príncipe encantado. Esta é a parte do sonho da Cinderela e também a parte que as pessoas da linha psi estudam. Na vida real, isto é, ficcional, Cinderela teve que lavar todo o castelo, muito bem lavado, para poder ir ao baile! Esta é a história do conto de fadas cuja origem se perde na antiguidade, e talvez seja a sina da mulher em qualquer época.
P. D. James se casou, teve filhos e tinha 19 anos quando a segunda guerra estourou. Ela vivia em Londres, com muitos bombardeios e um futuro incerto. Seu marido foi convocado para a guerra. Anos depois, voltou para a casa com sérios problemas mentais. Com duas filhas pequenas, ela teve de procurar trabalho para sustentar a família. Foi funcionária pública, trabalhando na área de saúde e na polícia. Ou seja, lavou o castelo bem lavadinho, e então pode realizar o sonho de escrever. Mesmo assim, bolava suas tramas no caminho para o trabalho e escrevia nos finais de semana. Publicou seu primeiro livro O Enigma de Sally na maturidade. E foi um tremendo sucesso. Seguiram-se treze romances que consolidaram sua reputação como escritora de romances policiais. Hoje é uma das escritoras mais lidas do mundo.
Ela criou o investigador comandante Adam Dalgliesh, e o fez inteligente e perspicaz, sensível e corajoso. E além disso, também poeta. Ou seja, ela deu-lhe também um talento artístico. Além dos muitos livros em que ele aparece, também é personagem de filmes e séries de TV.
Como ela mesma afirma, nos livros policiais, de Ágatha Christie a John Le Carré, com suas novelas de espionagem, a estrutura geral é sempre a mesma: existe um crime misterioso, em geral um assassinato, um pequeno grupo que teve meios, motivo e oportunidade, um detetive que investiga as pistas; e, no final da história, chega-se à solução. Esta fórmula inclui muitos talentos e muita diversidade. Ágatha Christie ambientava suas histórias em locais fechados, John Le Carré usa a guerra fria e ambienta seus personagens por todo o mundo, em ambientes abertos e fechados!
Desde que Edgard Allan Poe criou a fórmula de crime, investigação e solução, muitos escritores a vêm usando de forma original. Cada um tem vivências diferentes, vê o mundo de uma forma, nasceu num país diferente. P. D. James é realmente uma dama do crime. Uma das melhores!
Além de escritora, em 1991, recebeu da Rainha Elizabeth o título de baronesa James de Holand Park e integra a bancada conservadora da Câmara dos Lordes da Inglaterra.
Até a próxima.