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domingo, 20 de maio de 2012

Noir malandro

Noir malandro

Marcos Rey, pseudônimo de Edmundo Donato, foi um escritor de fôlego. São Paulo foi a capital inspiradora desse escritor de múltiplas mídias e gerações: são mais de cinquenta livros, entre romances, contos, novelas e ensaios. Escreveu crônicas e contos, se destacou escrevendo romances para o público juvenil e escreveu também várias obras literárias para adultos. Durante os anos 1970 foi roteirista de diversos filmes do gênero pornochanchada, produzidos na Boca do Lixo, em São Paulo, como “As Cangaceiras Eróticas” e “O Inseto do Amor”.
Sempre gostei das histórias de Marcos Rey. Meu personagem Alyrio Cobra, como ele, é um paulistano que transita no cenário da cidade de São Paulo. O escritor faleceu no dia 1º de abril de 1999, aos 74 anos. Foi cremado e, um mês depois, sua esposa sobrevoou o centro da cidade com um helicóptero, espalhando as cinzas sobre São Paulo e realizando assim a reunião eterna de Marcos Rey com a metrópole que foi a grande personagem de toda a sua obra.
Nos tempos em que a Livraria Cultura do Conjunto Nacional era um local de encontro de escritores, todos os sábados, lá pelas 11 da manhã, Marcos Rey batia ponto por lá. Havia um grupo muito grande que frequentava o local do qual ele fazia parte, sempre animado, contando detalhes de suas aventuras literárias.
Rey usou a fórmula policial, e se poderia dizer que foi o precursor de Jô Soares, com seu policial cheio de ironia. Beirando o cronista, mas não o sendo, consegue em seus livros retratar o cotidiano paulistano de meados do século passado; na verdade, usa e abusa do humor, tornando a leitura de sua obra ainda mais interessante. Seus protagonistas são figuras típicas da cidade e vale a pena um olhar sobre eles.
Em sua larga obra, Malditos Paulistas é um ótimo exemplo, um romance que mistura a veia policial e o picaresco. A narrativa está centrada na trajetória singular de Raul, um carioca na faixa dos trinta anos que já fez muita coisa na vida, mas em nenhuma de suas atividades logrou sucesso. Desiludido, decide tentar a sorte em São Paulo, onde amplia suas experiências profissionais: trabalha como instrutor de natação, figurante de novela, garçom de cantina no Bixiga. Um anúncio classificado “Precisa-se de motorista” muda sua sorte na capital paulista. Ele vai trabalhar de motorista particular para Duílio Paleardi, que mora numa mansão do Morumbi. Ali, Raul se ocupa de flertes fortuitos com as empregadas e com a patroa, até que encontra, na garagem da mansão, uma marionete vestida de Carmem Miranda. A descoberta promove uma virada nos rumos da história, transformando-a numa narrativa vertiginosa em torno das investigações de Raul sobre os negócios escusos de Paleardi.
Num “noir” tipicamente brasileiro, Raul é o protótipo do pequeno malandro. Depois que lemos no primeiro parágrafo do livro o anúncio do emprego em que “dispensam-se referências”, a primeira dica sobre a personalidade de Raul aparece logo no segundo, quando ele pensa: “O emprego é para mim”.
A alusão deixada em aberto nessa primeira passagem é preenchida a seguir, quando Raul nos conta resumidamente seu currículo profissional: salva-vidas, cabo eleitoral, motorista, garçom, extra de telenovela, instrutor de natação, não sem antes avisar que não é motorista por vocação: “Meu sonho brasileiro, acalentado em mil camas e tipos de colchões, era ter um belo emprego público, que atrelasse meu pequeno destino ao glorioso futuro da Nação, mas à falta de um curso ginasial completo, cartuchos e pistolões, meu nome nunca foi impresso no Diário Oficial.”
A afirmação do “sonho brasileiro” de um “belo emprego público…” é intercalada pelo aposto de que esse sonho era “acalentado em mil camas e tipos de colchões”, o que insere o caráter errante da personagem e seu aspecto de volubilidade sexual — muitas mulheres, apartamentos no Guarujá e bares ao redor do porto, tudo isso envolve o personagem, que não cessa sua busca por respostas e por justiça (pessoal, claro).
No decorrer da história, o protagonista vai nos oferecendo outras características, sempre mobilizando algum recurso cômico. Por várias vezes Raul tem relações sexuais de maneira utilitária, ou seja, para conseguir vantagens; também ensaia alguns passos como chantagista, mas percebe-se que não é um contraventor real — só quer ver se “descola algum”. Mesmo ao chantagear contrabandistas Raul não deseja mexer com armas, ou seja, até em atividades “não louváveis” ele não quer se arriscar muito, É o malandro típico, que mesmo na contravenção só quer aquilo que não seja perigoso — atividades que não requerem o uso da violência, mas somente daquilo que Raul sabe que tem: “cabeça, picardia, manha e cancha”.
Claro que ele gostaria muito mais de ver seu nome no Diário Oficial numa nomeação, com um belo salário, ou seja, numa boa “mamata”. Usando a fórmula policial e criando um fantástico suspense, Marcos Rey nos mostra a alma do pequeno malandro que, em não descolando uma “mamata” do Estado, se deixa envolver pelo mundo das mansões do Morumbi onde as pessoas não são tão corretas assim, e de apartamentos no Guarujá, reduto dos ricos em meados do século passado.
Até a próxima!

terça-feira, 15 de maio de 2012

Nem só de crimes vive a literatura policial

Nem só de crimes vive a literatura policial

Quem gosta de História e História da Arte, especialmente a italiana, e mais especificamente a de Veneza, não pode deixar de conhecer o investigador Guido Brunetti, criado pela norte-americana Donna Leon: nem só de crimes vive a literatura policial.
Nascida em Nova Jersey (1942), professora e escritora, em sua juventude Donna viajou para a Itália, onde estudou nas cidades de Perugia e Siena. Depois de trabalhar como guia turística em Roma, teve vários empregos como professora em escolas na Europa e Ásia. Desde 1981 vive em Veneza.
Senhora de uma escrita cinematográfica, com um fantástico domínio dos diálogos, Donna Leon é, além de tudo, uma mulher cultíssima. Seus livros contêm, além da fórmula policial muito bem aplicada, uma agradabilíssima lição de História e História da arte, tendo em todos eles múltiplas referências à ópera e à literatura. Trazem também um manancial inesgotável de receitas culinárias da cozinha mediterrânea mais sofisticada, e um precioso roteiro do melhor que há em Veneza e não consta de nenhum guia. Donna Leon conhece Veneza como a palma da sua mão, e se compraz em descrevê-la bem, com seus itinerários mais secretos.
Esta familiaridade não é de se admirar: sendo norte-americana, trabalhou muito tempo em Veneza, ensinando literatura inglesa. O protagonista de seus livros não poderia viver em outro local. Guido Brunetti está por volta dos 40 anos, tem dois filhos adolescentes e é casado com uma professora universitária. Os pais dela são riquíssimos, vivem de negócios financeiros algo obscuros e frequentam a alta aristocracia de Veneza e do restante da Itália, enquanto Guido Brunetti veio de classes mais baixas, é formado em direito, recebe um magro salário como policial e não tem muita paciência para as festas dos sogros. No entanto, são essas festas que proporcionam à autora a oportunidade de escrever sobre os fantásticos palácios e locais requintados de Veneza.

Guido e sua esposa se dão muito bem. Ele adora os filhos e tem um desprezo absoluto pela classe política italiana que considera, sem exceção, atolada na mais vil corrupção — uma corrupção que extravasa todos os poderes, inclusive o da polícia.
Morte no Teatro La Fenice foi a estreia no Brasil do charmoso Guido Brunetti, um comissário instintivo, ágil e cordial, funcionário exemplar da polícia de Veneza. Nesse livro, Brunetti investiga o caso do maestro Wellauer, encontrado morto em seu camarim depois de reger o primeiro ato de uma famosa ópera de Verdi.

Em Fardo da Nobreza, os jardins de uma casa abandonada em uma pequena vila na Itália permaneceram intocados por cinquenta anos. Quando o novo proprietário assume a propriedade e dá início a uma reforma, um túmulo macabro vem à tona. Animais, fungos e bactérias fizeram seu terrível trabalho, e o cadáver humano encontra-se em estado avançado de decomposição, o que impede o reconhecimento do corpo. Um anel valioso torna-se a principal pista desse mistério, que leva o comissário Guido Brunetti ao coração da aristocracia veneziana, uma família que ainda sofre com o desaparecimento do filho e cujos segredos perturbadores remontam à Segunda Guerra Mundial.
Enquanto eles dormiam se passa no início da primavera em Veneza. Tomado pelo tédio, o comissário Guido Brunetti já perdia as esperanças de qualquer ação, até que recebe uma estranha visita. Mais uma vez retratando as peripécias desse atípico detetive — amante da boa mesa e da literatura e casado com uma intelectual filha de um conde veneziano — em meio a canais, praças e vielas que ele conhece como ninguém, Donna Leon conduz os leitores aos subterrâneos de uma misteriosa organização religiosa, protegida por figurões da cidade. Brunetti precisará de muita cautela e astúcia para aplacar a influência dos poderosos, inclusive de seu chefe, e proteger uma boa alma.
Se não fosse pelo feriado de Ferragosto, que todos os anos inunda Veneza de turistas, a notícia de um travesti encontrado morto num terreno baldio certamente se tornaria o assunto mais comentado da cidade. Além disso, uma onda de calor faz os moradores se trancarem em suas casas, na segurança dos aparelhos de ar-condicionado, e o crime fica diluído entre os muitos outros escândalos que estampam as capas dos jornais. Para o chefe da polícia de Veneza, trata-se de um caso simples, banal: o michê fora assassinado por um cliente insatisfeito com os serviços prestados.
Em Vestido para morrer, apenas o comissário Guido Brunetti suspeita de algo maior por trás do crime. Quando o corpo é identificado como sendo o de um diretor de banco, Brunetti se vê às voltas com uma conspiração que envolve algumas das figuras mais importantes da cidade, e novos cadáveres não tardam a aparecer.
Num chuvoso domingo de inverno, a arqueóloga americana Brett Lynch recebe uma inesperada visita no apartamento que divide com a namorada — a cantora lírica Flavia Petrelli —, e acaba brutalmente espancada. Em Acqua Alta, o comissário Guido Brunetti, velho conhecido da diva do Scala, assume o caso e, com a ajuda de um pintor e connoisseur, desvenda os códigos internos do mercado de antiguidades e uma complexa rede de negociações espúrias. Por trás de tudo, paira a sombra da Máfia siciliana, que parece influenciar todos os setores da economia italiana. Como veem, nem só de crimes e cadáveres vive a literatura policial!
Até a próxima.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Jaime Bunda, agente secreto

Jaime Bunda, agente secreto

Nas tantas crônicas que escrevi sobre romances policiais, mencionei “a grande virada”. Vou relembrá-la. Desde que foi criada a fórmula policial, críticos literários de peso sempre classificaram os romances policiais como literatura de segunda linha, mas jamais acreditei que existam gêneros de primeira ou segunda linha: acho que existe literatura ótima, excelente, boa, regular ou péssima, dependendo unicamente da habilidade de cada autor, independente do gênero que praticam.

Em relação ao policial, em 1980 ocorreu a grande virada. Umberto Eco, o maior estudioso de Idade Média na Europa, aproveitou a fórmula em seu livro O nome da rosa. Já não se podia afirmar que usá-la era sinônimo de escrever romances de segunda linha.
No novo milênio, Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, conhecido como Pepetela, (Benguela, 29 de Outubro de 1941), escritor angolano vencedor do prêmio Camões de 1997, usou a fórmula para escrever sobre os problemas da sociedade angolana.

Toda a obra de Pepetela reflete sobre a história contemporânea de Angola e os problemas que a sociedade angolana enfrenta. Durante a longa guerra, Pepetela, angolano de ascendência portuguesa, lutou juntamente com o MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola) para libertação da sua terra natal. Seu romance Mayombe retrata as vidas e os pensamentos de um grupo de guerrilheiros durante a guerra; Yaka segue a vida de uma família colonial na cidade de Benguela ao longo de um século; e A Geração da Utopia mostra a desilusão existente em Angola depois da independência. A história angolana antes do período colonial também faz parte das obras de Pepetela, e pode ser lida em A Gloriosa Família e Lueji  — é nestes abismos sociopolíticos do país africano que Pepetela põe a mira de cada um de seus tantos livros publicados em mais de 30 países.
No novo milênio, também ele mergulhou na fórmula. Criou o personagem Jaime Bunda, que arrastando sua avantajada bunda pelas misérias de Luanda continua, com eficiência, a trajetória de seu criador. Jaime Bunda, uma paródia de James Bond, cujo apelido faz óbvia referência à sua anatomia, é um personagem obcecado pelos filmes do agente inglês e romances policiais norte-americanos, aspecto que alguns críticos consideram como ilustrativo de elementos do subdesenvolvimento de Angola — rebaixando a fórmula!!!! Uau!
Jaime Bunda é membro da uma família tradicional angolana que, graças a uma rara capacidade de observação dos detalhes, e por influência do primo, um figurão do governo, consegue o cargo de detetive estagiário — sem muitas atribuições e tendo de aguentar a gozação dos colegas investigadores. Bunda, por fim, recebe a oportunidade de provar que é competente, em seu primeiro caso importante.
No primeiro dos dois romances, Jaime Bunda, Agente Secreto, publicado em 2001, o protagonista investiga um estupro e assassinato de uma adolescente. Jaime parte com entusiasmo para a apuração do crime, ainda sem suspeitos, e, com seus métodos excêntricos, acaba por se envolver em uma trama complexa que reúne escroques internacionais, altos funcionários do governo e uma mulher misteriosa. Na investigação, segue um falsificador sul-africano chamado Karl Botha, uma referência ao ex-primeiro-ministro sul-africano P.W. Botha, quem autorizou a intervenção sul-africana em Angola em 1975.
O segundo romance, Jaime Bunda e a Morte do Americano, publicado em 2003, tem lugar em Benguela em vez de Luanda, e trata da influência norte-americana em Angola. Jaime Bunda investiga o assassinato de um norte-americano e tenta seduzir uma agente do FBI: o romance apresenta a crítica de Pepetela à política exterior dos Estados Unidos, com o comportamento pesado da polícia angolana refletindo a maneira como os norte americanos trataram os suspeitos de terrorismo durante o mesmo período.
Os romances são populares em Portugal, também tendo êxito em outros países europeus, como a Alemanha, onde Pepetela era desconhecido antes de usar a fórmula. Os livros protagonizados por Jaime Bunda são leves, são levíssimos, mas dão o seu recado. Com pitadas de graça e sátira, o escritor passeia pela corrupção, pela anomia, pela miséria cristalizada de uma favela chamada Roque Santeiro, no miolo da capital Luanda.
“Jaime Bunda, Agente Secreto” é, acima de tudo, uma parábola da organização social de Angola. O autor usa seu olhar crítico para denunciar, com bom humor, o ranço colonial que ainda resiste nas instituições angolanas, e assim apresenta um retrato pouco conhecido de seu país, infelizmente, tão parecido com o Brasil.

terça-feira, 24 de abril de 2012

O Pulitzer e o dry martini

O Pulitzer e o dry martini

No último sábado, lendo a seção “Panorama” da revista Veja, lá naquele cantinho de “o que desce e o que sobe”, me surpreendi ao ver Livros de Ficção em baixa! Uau! O que é isso? A realidade está tão sobrenatural, com tantos descalabros de corrupção, que já ninguém mais lê ficção? Lá estava a notícia: “Pela primeira vez em 35 anos o Prêmio Pulitzer, um dos mais importantes de literatura do mundo, decidiu não contemplar ninguém nessa categoria.”
O Pulitzer é um prêmio americano outorgado a pessoas que realizam trabalhos de excelência, basicamente, nas áreas do jornalismo, literatura e música, administrado pela Universidade de Columbia, em Nova York. Foi criado em 1917 por desejo de Joseph Pulitzer que, na altura de sua morte, deixou uma boa herança para a Universidade. Parte do dinheiro foi usada para começar o curso de jornalismo na universidade em 1912; outra parte continua mantendo o prêmio.
Estaria a prosa americana enfrentando uma crise? — é a pergunta natural que nos ocorre. Foram três os livros escolhidos, entre mais de 300 títulos. Responsável pela escolha final dos vencedores, o Conselho do Pulitzer informou que nenhum dos três atingiu a maioria necessária exigida, ou seja, dez votos entre dezoito.
Os três finalistas eram Train Dreams (Sonhos de Trem ou Sonhos no Trem?), de Denis Johnson, definido pelo comitê avaliador como “um romance sobre um dia de trabalho no velho-oeste americano, com olhar calmo e compassivo sobre suas glórias e terrores”; Swamplandia! (A terra do Pântano?), de Karen Russell, descrito como “um conto de aventura sobre uma excêntrica família, desorientada na condução de um problemático parque temático de briga de jacarés, com narração de uma heroína sábia demais para seus 13 anos de idade”; e The Pale King (O Rei Pálido?), romance póstumo de David Foster Wallace (1962-2008), que explora o tédio e a burocracia no local de trabalho americano.
Lendo estes resumos, fizesse eu parte do conselho e creio que também não iria votar em nenhum deles, mas não acho que a prosa americana esteja em crise. Talvez as histórias chatas estejam! Ninguém tem mais tempo para textos longos e chatos!
Tendo os escritores Denis Johnson, Karen Russell e, a título póstumo, David Foster Wallace como finalistas, o júri não conseguiu chegar a um consenso e o prêmio, não só de 10 mil dólares, mas de um fantástico prestígio, não rolou, este ano, na categoria. Em 1941 e 1974, também havia ficado vago, quando Por quem os Sinos Dobram, de Hemingway (1941) e O Arco-Íris da Gravidade, de Thomas Pynchon (1974) eram os favoritos.
Os finalistas deste ano ainda não foram publicados no Brasil, e imagino que as editoras que compraram os livros devem estar chiando! Afinal, o prêmio alavanca tremendamente as vendas…
Além desta notícia, há outra ainda mais extravagante. Em seu próximo filme, James Bond, o agente 007, trocará seu drinque favorito, o famoso Dry Martini (mexido e não batido), pela Cerveja Heineken, tudo em nome do merchandising! O ator da série foi trocado várias vezes, até o escritor já foi trocado, mas agora o drinque… sua marca registrada!
Pois é. Desde que mundo é mundo, quem paga a conta dá o tom. Ou será que Pulitzer está se revirando no túmulo e bebendo uma Heineken? That´s life.
Até a próxima!

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Robô-detetive

Robô-detetive

Todos já devem ter ouvido falar em Isaac Asimov. O filme “Eu, robô”, de 2004, foi baseado na sua obra Robot, onde Asimov brinca com as leis da robótica criadas por ele mesmo. Para quem não se lembra, aí vão elas:
1ª lei: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano sofra algum mal.
2ª lei: Um robô deve obedecer às ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
3ª lei: Um robô deve proteger sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a primeira e segunda leis.
‘Lei Zero’: Um robô não pode fazer mal à humanidade e nem, por inação, permitir que ela sofra algum mal.
Isaac Asimov nasceu na Rússia em 1920 e foi criado no Brooklyn, Nova York. Além de ter sido um marco na ficção científica, produziu uma grande quantidade de ficção de mistério e suspense. A maioria da sua obra era ficção de mistério voltada para a área científica, e inclui as histórias das séries David “Lucky” Starr e Robot.
Já tivemos uma crônica na KBR que o menciona como precursor das nossas tantas modernidades. Era um cientista de mão cheia e, a exemplo de Júlio Verne, escrevia sobre as possibilidades do futuro, as invencões que estavam por vir — entre elas muitas coisas que usamos na internet e telefones celulares.
Asimov pretendia escrever 500 livros, e por pouco não atingiu essa marca: escreveu 463 obras, mas somando todos os livros, desenhos e coleções editadas, totalizam-se 509 itens em sua bibliografia completa. Dentro dessa obra extensa e fantástica, também ele sucumbiu à fórmula policial: criou o detetive Lije Bailey e seu robô assistente.
Foram dois seus romances policiais:
The Death Dealers (1958), republicado mais tarde como A Whiff of Death e Murder at the ABA (1976), republicado mais tarde como Authorized Murder, nenhum deles publicado no Brasil.
Na sua obra, uma coisa muito interessante foi a publicação de um ensaio que infelizmente não teve tradução para o português: “How Good a Scientist was Sherlock Holmes?” (1980), no qual dá ao mais famoso detetive de todos os tempos os créditos por ele próprio, Asimov, ter usado seus conceitos científicos.
Até a próxima!

terça-feira, 10 de abril de 2012

Psicose: a morte como espetáculo

Psicose: a morte como espetáculo


Na semana passada falei um pouco sobre Hitchcock. Uma pinceladinha! Existem centenas de livros sobre seu trabalho e não dá para resumir tudo numa crônica, e, aliás, crônicas muito longas desanimam o leitor. Volto a ele para falar de uns pontos que acho importantes.
É muito diferente trabalhar o suspense em imagens do que na escrita. No entanto, para quem escreve ajuda bastante observar cuidadosamente o trabalho de um grande mestre do suspense, e nesse quesito Hitchcock foi realmente o mestre. Também trabalhou muito bem a transferência da culpa, mas esta fica para uma outra investida.
“Psicose” é com certeza seu filme mais conhecido e estudado. Hoje, a violência tomou conta das telas e muitas vezes é feita de forma grosseira, mas quando “Psicose” foi filmado, a célebre sequência do assassinato de Marion (Janet Leigh) mostra um momento especial do cinema de medo e mistério. Depois de vermos a faca, Marion se despede da vida: braço esticado, mão acima do rosto, espalmada, não mais se defendendo dos golpes, mas já escorregando, submergindo na zona escura em que se aloja o seu corpo quase inerte.
Tudo se faz na passagem da luz à sombra. Uma sucessão rápida de fragmentos compõe na mente do espectador todo o horror de uma retaliação que não se mostra em nenhum plano. Ao final da sequência, lá está a vítima, sozinha, no estertor da vida.
Poderíamos dizer que é simplesmente mais um quadro na galeria de mulheres assassinadas no cinema, situação limite em que se pode decidir a reputação de um cineasta. E foi esta cena que fez os estudiosos do cinema afirmarem ser um momento de pura arte inspiração!
Nela, a morte é mostrada como um espetáculo. Por sua intensidade e duração, a morte de Marion é um momento especial. É difícil e desafiadora a reprodução, pela imagem em movimento, do instante sagrado de passagem da vida para a morte, quando esse momento único, de solidão, intransferível, se faz presente na tela.
A exibição da morte, do sexo e do crime faz parte do que os autores dos famosos Cahiers Du Cinema, chamaram de “cinema da crueldade”. A experiência do sexo, morte e violência dirigida ao próprio olho é também um ponto focal de atração das plateias, ansiosas por incursões simuladas em zonas de risco.
A experiência do medo assegurado é constitutiva, e marca a afinidade eletiva do cinema com a violenta ruptura da ordem moral que os espectadores simulam temer, mas desejam, num sistema de projeções que o cineasta incorpora  — coisas que nem Freud explica e que gênios captam — e que consegue arrancar do fundo do inconsciente do espectador cada emoção. E mantê-los atentos até o final.
Caminhar nessa zona de risco, ser um ás na modulação dos sentimentos da plateia diante da exposição do que está implicado no desejo de cada personagem (e de cada espectador), é uma condição ímpar que fez de Hitchcock o mestre que ele foi.
No seu tempo, ao surgirem as novas linguagens no cinema europeu de autor, Hitchcock manteve-se fiel ao cinema de entretenimento, usando o suspense para captar o espectador, usando a fórmula de crime, investigação e solução. Além da cena mencionada, foi mestre no suspense psicológico, apoiado na pura dimensão do olhar, quando o que parece ser uma configuração de rotina, a paisagem, a rua ou a casa de todo dia, de repente se revela uma anomalia, um ponto de incongruência que atiça a percepção e aguça as expectativas, suscita indagação. O insólito dentro do cotidiano faz da cena inocente uma sugestão sinistra, produz insegurança e vontade de decifrar.
Para criar suspense, o escritor usa palavras, o cineasta usa posições de câmera, gestos e olhares de personagens. O objetivo é o mesmo. Captar as emoções e a atenção do espectador/leitor.
Até a próxima!

terça-feira, 3 de abril de 2012

Hitchcock, o mestre do suspense

Hitchcock, o mestre do suspense

Falando mais um pouco sobre as tramas policiais, não podemos deixar de fora o cinema. Roteiristas e diretores aproveitaram, e muito, a fórmula policial para prender seus expectadores na história. Desde que o cinema foi inventado, as tramas policiais, os thrillers, são os filmes de maior bilheteria.
Vou falar um pouco sobre Alfred Hitchcock: gênio do cinema e mestre do suspense. Podemos perfeitamente iniciar assim o perfil do melhor diretor de todos os tempos e responsável por nada mais, nada menos, do que alguns dos melhores filmes da história. Num tempo em que não existia computador, nem efeitos especiais, ele criava cenas de suspense fantásticas, que até hoje são analisadas e copiadas.
Os filmes de Hitchcock trouxeram inovações técnicas nas posições e movimento das câmeras, nas elaboradas edições e nas surpreendentes trilhas sonoras que realçam os efeitos de suspense e terror — o clima de mistério é acentuado pelo uso de música forte e dos efeitos de luz. Nos filmes “hitchcockianos”, a ansiedade do espectador aumenta pouco a pouco, enquanto o personagem não tem consciência do perigo. São apresentados dados ao espectador que o personagem do filme não sabe, criando nele uma tensão para saber o que acontecerá quando o personagem descobrir. Em “Psicose”, somente o espectador vê a porta se entreabrir, esperando algo acontecer enquanto o detetive sobe a escada.
A obra de Alfred Hitchcock é hoje admirada no mundo todo, e os jovens que o descobrem, graças a reprises de, além de “Psicose”, “Janela indiscreta”, “Um corpo que cai, “Rebeca, a mulher inesquecível” etc., passam a  admirá-lo imediatamente.

Cada um de seus trabalhos tem características únicas que, sem dúvida nenhuma, o transformou junto com seu talento no diretor mais famoso que já existiu. Nascido em Leytonstone, Londres, no dia 13 de Agosto de 1899, o inglês teve severa educação dos pais católicos, o que colaborou diretamente para seu interesse pelo crime.
Em 1919, com apenas 20 anos, conseguiu seu primeiro emprego na área cinematográfica, nos estúdios da Players-Lasky, onde fazia interlúdios de títulos nos filmes e aprendeu a escrever roteiros, editar e diversos outros recursos ligados à arte. Seu primeiro filme foi “The Pleasure Garden”, de 1925, apesar de ter substituído o diretor em “Always Tell Your Wife”, em 1922, e escrever roteiros desde 1923.

Em 1926, em seu terceiro filme, “O Inimigo das Loiras” (The Lodger), Hitchcock começou a nos encantar com seu dom de fazer suspense. Fala sobre Jack, um homem que é injustamente acusado de um crime após ser confundido com o estripador homônimo. Nesse mesmo ano, se casou com Alma Reville, e ficou com ela até que a morte os separou. Em 1928 nasceu Patrícia, que fez pontas em alguns filmes do pai (a secretária de “Psicose”, a irmã de “Pacto Sinistro” etc).
Hitchcock dirigiu filmes britânicos até “A Estalagem Maldita” (Jamaica Inn, 1939), quando se mudou para os EUA, contratado por David O. Selznick (produtor de “E o Vento Levou” e “Começou em Nápoles”). Deste contrato saiu um de seus maiores sucessos, “Rebecca: A Mulher Inesquecível” (Rebecca, 1940), a primeira fita do diretor a ganhar o Oscar de melhor filme.
A obra é realmente fantástica: fala de um homem viúvo que se casa com uma jovem, após falecer sua ex-mulher (interpretada por Joan Fontaine, que foi indicada ao Oscar pelo trabalho). Com o desenrolar da história, a menina sofre com a “sombra” da ex-mulher, perfeitamente representada pela empregada da casa, inclusive no visual — Hitchcock a vestiu com longos vestidos, que davam a impressão de fazê-la flutuar, afirmando e representando o fantasma da ex-mulher do dono da casa. Não se tratou apenas de mais um filme com uma bela história: Hitchcock confirma sua genialidade através das técnicas utilizadas, extremamente avançadas e cheias de recursos. A abertura já fala por si só: são longos planos em sequência, efeitos de luz e fumaça para já introduzir o público no clima de medo e suspense.
Ainda neste ano, Hitch produziu o ótimo “Correspondente Estrangeiro” (Foreign Correspondent, 1940), filme que trata de conspirações internacionais descobertas por um simples correspondente estrangeiro curioso. No ano seguinte, Joan novamente foi indicada ao Oscar, porém, desta vez, levando a estatueta para casa por seu trabalho em “Suspeita” (Suspicion, 1941), terceiro filme americano do diretor que começava a se consagrar um mestre em dirigir atrizes.
Diretor sempre muito inovador e criativo, nunca tinha medo de arriscar. “Festim Diabólico” (Rope, 1948), por exemplo, é um filme extremamente complexo e ousado. Em “Janela Indiscreta” (Rear Window, 1954) criou uma enorme vizinhança nos estúdios da Paramount para ambientar sua trama de um jornalista com a perna fraturada que se envolve com as vidas dos vizinhos, ocupando assim o seu ócio e desconfiando de um assassinato cometido por um deles. James Stewart está impecável, Grace Kelly inesquecível.
No ano seguinte, dirigiu “Ladrão de Casaca” (To Catch a Thief, 1955), muito mais romance do que suspense, mas com uma temática secundária de crimes. É um de seus filmes com o qual o diretor menos simpatiza, talvez pelo fato de ter perdido sua loira Grace Kelly, que durante as filmagens conheceu o marido, o Príncipe Rainier de Mônaco e abandonou o cinema.
Em 1955, ganhou o seu próprio programa de televisão (“Alfred Hitchcock Presents…”), o que aumentou muito a sua popularidade e o transformou em um homem rico. O programa, que trazia diversos episódios com histórias de crimes e mistérios, durou até 1961.
“Um Corpo que Cai” (Vertigo, 1958) é considerado por muitos a obra máxima de Hitchcock. James Stewart encarna um detetive, prestes a se aposentar por um trauma do passado, que é contratado por um amigo para seguir sua mulher; desconfia que ela pode estar sendo possuída por um espírito, e acaba se apaixonando por ela. Depois que ela morre, tem que enfrentar todo o drama psicológico de acreditar que está sendo perseguido pela alma dela. O filme é um marco, fantástico em sua evolução, e serve de exemplo para as injustiças que a Academia comete: no Oscar de 1959, só foi indicado nas categorias de melhor som e direção de arte, e pelo menos levou a segunda estatueta para casa.
No seu clássico absoluto, a obra-prima “Psicose” (Psycho, 1960), Hitchcock quebrou todas as barreiras imagináveis do cinema. Além de rodá-lo propositalmente com um baixo orçamento, mostrou pela primeira vez na história do cinema um vaso sanitário (até então proibido pela censura); filmou todo em preto e branco (ignorando a tecnologia das cores para não criar um contraste com o sangue), escondeu uma forte sexualidade (a cena em que Norman vai atender o balcão e diz que estava comendo, quando na verdade estava transando com a protagonista), enfim, quebrou todas as barreiras possíveis e de tudo o que já havia criado antes. Isso, claro,  sem falar na maravilhosa história com uma surpreendente (e quase única) troca de protagonistas no meio da produção, executada perfeitamente. A cena do chuveiro é uma das mais clássicas já vistas, com o gênio utilizando calda de chocolate para representar todo o sangue visto em tela.
O diretor ainda usou e abusou de recursos especiais em seus voadores de “Os Pássaros” (The Birds, 1963) para perseguir sua protagonista. Encerrou sua carreira com “Trama Macabra” (Family Plot, 1976).
Com todos esses sustos e cinismo ao seu redor, é até irônico pensar que, na verdade, Hitchcock era um homem caseiro, amante de sua família e um ótimo gourmet. Falar sobre ele numa crônica é muito pouco. Com certeza falarei mais de uma vez sobre suas técnicas para criar suspense.
Até a próxima.

terça-feira, 27 de março de 2012

Mercado esquentado

Mercado esquentado

Na Folha de sábado (25/03/2012) há o anúncio de que a editora L&PM está lançando seus livros “de bolsinho”. O slogan publicitário da coleção 64 páginas não poderia ser mais direto: “Do tamanho do seu tempo. E do seu bolso.”  Todos os títulos têm 64 páginas e são vendidos por R$5 em papel e R$3 em e-book. Na última semana fui atropelada por um deles, que está em 1º lugar entre os e-books da Livraria Cultura. Peças Fragilizadas mantém o segundo lugar. UFA! Continuamos lá!
Quanto ao e-book, há muitas notícias boas. A primeira é que a Amazon cravou uma data para começar sua operação de comércio eletrônico no Brasil: 1º de setembro. Segundo o Publishnews só não veio antes por causa de briga com a Saraiva, que vê na Amazon uma fantástica concorrente!
Para os que ainda acham que os livros digitais não estão “vingando”, a Livraria Cultura informa ter, atualmente, 5 mil e-books nacionais e em português disponíveis para compra. É quase 12% mais do que a rede oferecia no fim de janeiro, quando tinha 4.501 títulos no catálogo. Naquele mês, de acordo com pesquisa da Simplíssimo, a Gato Sabido era a maior livraria de e-books do país, com 7.292 livros em português, seguida da Saraiva, com 6.058. A Amazon tinha 3.849. Este mês, com a entrada em operação da Iba, do grupo Abril, o mercado ganhou mais um concorrente, que foi ao ar com 6 mil e-books. A Cultura também informa ter em seu catálogo 261 mil e-books importados. E ainda tem gente falando que o mercado de livros digitais é pequeno!
O fim da versão impressa da Enciclopédia Britânica, anunciado na última semana, é mais uma das provas irrefutáveis das mudanças que ocorrem no mercado livreiro: quase um quarto de milênio de impressões sucessivas da Britânica não foram páreo diante de hábitos desenvolvidos na última década e meia. O que fica claro é que hoje navegar por um site é mais natural do que correr com os dedos uma longa lista de verbetes gravados numa folha de papel. Além de hábitos, há evidências numéricas. Os 32 volumes da edição de 2010 (a última a circular) trazem 120 mil verbetes. A versão inglesa da Wikipédia beira os 4 milhões, e é gratuita.
No atual estágio, um empreendimento impressionante como a Wikipédia, por mais preocupado que seja com a checagem das informações que distribui, ainda está longe do apuro de um processo editorial como o da Britânica, além de sofrer com sabotagens de cunho político e ideológico. A Britânica aposta nesse diferencial para continuar a vender assinaturas de sua versão eletrônica. A grande questão, que em muito também atormenta jornais e revistas, é saber se o consumidor atual está disposto a pagar por uma informação que se habituou a conseguir de graça.
Apesar disso, jornais famosos estão lançando livros digitais. O La Vanguardia, um jornal catalão, lançou nada menos do que 100 títulos de e-book desde novembro. O jornal inglês The Guardian já tem mais de 20 e-books publicados, e a Cosmopolitan já lançou diversos livros digitais cujo alvo são as próprias leitoras da revista. Nesta semana, a National Geographic lançou seu primeiro e-book.
Só falta a Amazon chegar com os tablets a preços baixos para o mercado esquentar para valer! Que bom que estamos nesta!
Até a próxima.

terça-feira, 20 de março de 2012

Tenente Columbo

Tenente Columbo


Estive de férias e estou retornando. Espero que tenham passado um ótimo Natal, e tenham entrado 2012 com o pé direito. No final de janeiro entramos no ano do dragão, e espero que para todos nós seja um dragão que não exale muito ácido sulfuroso pelas ventas!
Peças fragilizadas, a  nova aventura do detetive Alyrio Cobra, foi publicada e está disponível como e-book em todas as livrarias virtuais. Este livro entrou no mercado com o pé direito! Na primeira semana já está na lista dos e-books mais vendidos da Livraria Cultura! Maravilha! E semana que vem já estará lá como POD também!

Minha última crônica antes das férias foi sobre o detetive Alyrio Cobra. Se quiserem conhecê-lo melhor, leiam aqui no Blog da KBR: Alyrio Cobra, o detetive paulistano. Durante as férias, estive com meus netinhos que vivem na Itália. Como eles são pequenos, tem três e quatro anos, não tive muito tempo para leituras, mas assisti muita TV. Lá exibem seriados antigos e aproveitei para revê-los, entre eles, várias vezes por semana, o “Tenente Columbo”. Fora o fato de que lá ele fala italiano, deliciei-me com suas aventuras. Incrível como eu me lembrava do tempo que o assistia aqui no Brasil, falando português.
Hoje assistimos “CSI”, “Lost”, “Law and Order”, “Criminal Intent”, “House” e tantos outros seriados cheios de suspense e tecnologia. No entanto, nos anos 1970 o tenente Columbo (seu primeiro nome jamais foi revelado) da polícia de Los Angeles era fantástico, um roteiro superinovador.
Aqui no Brasil já revi alguns dos episódios , mas revendo-os lá na Itália pude perceber que o ápice da arte de escrever para televisão foi atingido em Columbo. O seriado nasceu de uma peça de teatro escrita pela dupla Richard Levinson e William Link, na qual um psiquiatra cria um plot perfeito para matar a esposa rica… ou um plot que parece perfeito, até que Columbo entra em cena. A peça fez sucesso e foi filmada, já com Peter Falk no papel, anos antes de o detetive ganhar seu seriado. O primeiro episódio da série foi dirigido por um jovem de 25 anos: Steven Spielberg.
Columbo foi um seriado policial inovador na medida em que adotava não o formato “whodunnit” (quem cometeu o crime), mas sim “howdhecatchem” (sabendo quem é o culpado, como o pegaram?).
Um episódio padrão do tenente Columbo tinha o seguinte formato: no primeiro bloco, o telespectador assistia o crime muito bem engendrado sendo cometido: via o motivo, a arma, a oportunidade, as providências do criminoso para esconder seu feito, em geral, um álibi perfeito. Nos blocos seguintes — e era aí que a história ficava de um jeito que ninguém conseguia sair da cadeira — assistia-se o tenente Columbo descobrir, um a um, todos os erros cometidos pelo assassino. De uma forma bastante desajeitada, sem nenhuma tecnologia com as que conhecemos nos dias de hoje, lançava mão de uma série de armadilhas psicológicas que acabavam levando o assassino a confessar, ou a produzir a evidência necessária para condená-lo. Como já disse, era o ápice da arte de escrever para a TV, o suspense atingindo pontos altíssimos, o telespectador não conseguindo sair da frente da telinha por nada deste mundo!
Houve críticos que o condenaram: afirmavam que Columbo era um torturador, pior que os assassinos que prendia — já que a técnica psicológica do personagem de induzir o culpado a confessar muitas vezes envolvia boas doses de crueldade mental. Columbo ou dava a entender ao culpado, por meio de elipses e circunlóquios, que sabia quem ele era e o que tinha feito, causando não pouca angústia, ou se fazia de tolo, gerando um falso senso de segurança que precedia a queda. Esse era o método de Columbo.
Na época, se o compararmos à tecnologia de CSI e todo o aparato moderno das polícias americanas, Columbo só dispunha da própria inteligência e das técnicas psicológicas “torturantes”. Diga-se de passagem, ele sequer usava arma.
O seriado foi primeiro escrito, para depois virar imagem. E as contribuições de Peter Falk à construção do personagem são famosas: o ator, que tinha um olho de vidro, usava o olho ligeiramente fora de centro para fazer o personagem, dando ao detetive um ar apalermado (a estratégia básica de Columbo era fazer-se subestimar pelos suspeitos); além disso, o sobretudo amarrotado e desabotoado, marca registrada de Columbo, foi outra ideia do ator. Na Califórnia da época, ele dirigia um carro velho, cujo motor, pelo barulho, parecia prestes a fundir. Surrado, sujo e amassado, o conversível ficou famoso.
Também o charuto vagabundo que vivia em sua mão, e que ele acendia e reacendia tirando baforadas fedorentas (era possível sentir o odor através da tela!), fazia parte da caracterização. Por vezes, quando ia aplicar as técnicas “torturantes” levava seu cachorro.
O seriado teve vilões clássicos, como o enólogo interpretado por Donald Pleasance, que mata o irmão que decidira vender os vinhedos da família; o cantor gospel assassino interpretado por ninguém menos que Johnny Cash; o maestro frio e calculista vivido por John Cassavetes. Teve também vítimas memoráveis, como o escritor de best-sellers interpretado por Mickey Spillane.
O tenente Columbo era o tipo de detetive que não chamava a atenção. Não era do tipo de sair dando socos e tiros, nem de sair em loucas perseguições automobilísticas. Também não era o detetive que seduzia mulheres; muitas vezes mencionava sua esposa e era o inverso do galã americano tradicional, mas conseguia desvendar os mais complicados casos de assassinato.

Peter Falk interpretou Columbo pela última vez em 2003. Havia sido o tenente pela primeira vez em 1968: por pouco não completou 40 anos como o mais sagaz dos detetives da televisão.
Até a próxima!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Leitura digital

Leitura digital

A revista Veja de 14 de março de 2012, que recebi no último sábado, veio com uma sobrecapa: era o anúncio da nova plataforma para leitura digital, a iba. Apresentada como uma nova maneira de ler, é a gigante ABRIL entrando com força total no mercado da leitura digital.

Se você se cadastrar, como eu fiz, tem que baixar o aplicativo e ganha 5 revistas, um jornal e 10 livros.
Não estou fazendo propaganda gratuita para eles, mas acho muito bom isso que está acontecendo. Estão doando muita coisa boa como uma forma de fazer com que os leitores se acostumem à leitura digital. São nossos concorrentes, mas também estão nos abrindo mercado, criando mais leitores digitais.

Muito se discute sobre a leitura digital. Alguns acham que o livro de papel vai acabar, outros que a leitura digital não vai vingar. O futuro a Deus pertence! Mas o livro digital está chegando com força. Temos que nos acostumar. Eu mesma, na batalha de promover Peças Fragilizadas, tenho dado muitas explicações aos meus leitores de como baixar o aplicativo e depois o livro.
Em geral, fala-se como se o surgimento do e-book fosse acabar com o livro impresso e também com a cadeia de produção. Isso quer dizer, objetivamente, que as gráficas teriam que encontrar formas alternativas de utilizar a sua força produtora de livros comuns, investindo em técnicas de produção mais elaboradas para diferenciar seus produtos ou em impressos para outros segmentos. As livrarias, por sua vez, passariam a focar também em outros produtos (como já fazem) e a fortalecer seu braço virtual.
Acredito que um livro para ser “o livro”, continua precisando de todas as etapas: obviamente, o escritor, o editor, o revisor, o diagramador, designers, agências de marketing com estratégias de lançamento etc. A diferença é o suporte: sai o papel e entra o tablet. O conteúdo básico do livro é o mesmo, e as qualidades, também.
Podemos dizer que o futuro a Deus pertence, mas o passado é conhecido. A Kodak, gigante da fotografia, insistiu que seus clientes queriam fotografias em papel, quando o que eles queriam eram imagens. Quando a tecnologia permitiu a livre transmigração das imagens, com as câmaras digitais e os arquivos jpg, deu-se o lamentável “momento Kodak”: sem alternativas, ela teve que aderir às fotografias digitais. O mesmo aconteceu com a outrora poderosa indústria fonográfica, que queria vender discos, quando as pessoas queriam comprar músicas.
Estaria a indústria editorial fadada a seguir os passos que levaram a indústria fonográfica ao abismo? Ou será que encontraremos novos caminhos para vender o livro, em um mercado multiformato? Particularmente, acredito que haverá lugar para todos. O livro impresso jamais deixará de existir e coabitará em perfeita paz com o livro digital.
O que acho importante ressaltar é que em toda a discussão sobre a leitura digital, fala-se do livro digital como uma coisa menor, uma autopublicação sem as qualidades necessárias ao livro. Só para lembrar, um dos maiores sucessos recentes, A Cabana, foi originalmente uma autopublicação; Diário de um banana, um blog; e Meu pai diz cada merda, um twitter.

Claro que todos eles para entrarem no mercado editorial tiveram editores, revisores, diagramadores etc. etc.
Os novos formatos dão a autores que não eram conhecidos a chance  de entrar no mercado, reafirmando que o livro que merece ser publicado é aquele que tem público interessado em lê-lo.

Vamos aguardar o próximo lance, que deve ser a gigante Amazon chegar ao Brasil! E desta, nós da KBR já fazemos parte.
Até a próxima.

terça-feira, 13 de março de 2012

Alyrio Cobra: o detetive paulistano

Alyrio Cobra: o detetive paulistano

Queridos leitores, minhas últimas crônicas sobre o gênero policial foram fenômeno de repercussão no blog da KBR. Ultrapassaram a marca de 400 curtidas! Acredito que ao lermos um livro policial, pensamos somente numa leitura de entretenimento. No entanto, existe uma História muito interessante por trás desse gênero, e é isso que venho tentando mostrar. Daí o interesse.
Na próxima semana entrarei de férias, pois vou passar o Natal com parte da família que vive fora do Brasil. Adoro ler livros policiais e acompanho as publicações, mas para escrever crônicas, é preciso reler e pesquisar. O que toma bastante tempo.
Peças Fragilizadas, uma das aventuras de Alyrio Cobra, estará no mercado em ebook nas primeiras semanas de janeiro de 2013. Tenho certeza de que todos que curtiram as crônicas, vão gostar da história. Vão curtir o entretenimento. Alyrio Cobra ainda não é famoso como todos os outros sobre os quais escrevi. Vou, portanto, falar sobre ele, para que vocês o conheçam melhor.
Alyrio Cobra inicia suas aventuras baseado em notícias que circulam nos meios de comunicação. No caso de Peças Fragilizadas, selecionei uma bastante extravagante: o sequestro de um homem que estava em um carro blindado, de onde seria praticamente impossível ser sequestrado.
Nessa história de fachadas, simulações e disfarces, quem contrata o detetive Alyrio Cobra é Joca, o bandido contratado para matar o sequestrado. Além de disparar os tiros, Joca confessou o crime. Para quem realmente o orquestrou, havia motivo e culpado. Joca conseguiu a fuga da cadeia e levou uma boa grana. Não se preocupou com nada, além de comemorar e continuar seu trabalho de traficante, até perceber que todos os que estiveram ligados ao crime de alguma forma estavam sendo abatidos, mortes isoladas que dificilmente seriam associadas ao sequestro do qual participara.
Até então, Joca não interessava pela corrupção dos políticos. Sabia que o sequestrado era um homem atuante na área dos transportes da cidade de São Paulo, um arquivo vivo que precisava ser apagado. Matou mais um, só isso, sem remorsos. Mas ao sentir a própria vida em perigo, contratou Alyrio Cobra para desvendar toda a sujeira envolvida. Acreditava que se tivesse um dossiê completo, e soubesse os segredos que o morto escondia, sua vida seria poupada. Alyrio foi contratado e… Bem. Aí vocês vão ter que ler o livro para saber!
Devo ter falado em alguma das crônicas que descobri o real prazer da leitura com as aventuras de Sherlock Holmes. No meu tempo de escola, além de gostar de ler, fui boa aluna em matemática. Acredito que para escrever livros policiais é preciso alguma habilidade em montar equações matemáticas, de acordo com a lógica. Para montar e resolver as equações, criei o detetive Alyrio Cobra.
Alyrio nasceu e cresceu na cidade de São Paulo. Teve infância e adolescência sem grandes problemas. Formou-se advogado, casou-se. Passou a trabalhar no escritório de advocacia de um tio de sua esposa. Teve dois filhos e viveu feliz, até que sua esposa anunciou que amava outro homem e queria o divórcio: tudo o que ele imaginara ser felicidade, nada significava  para sua esposa. Ficou de tal forma atônito que concordou com tudo. Até assinou a permissão para que os filhos fossem viver com ela e o novo marido em Miami. Deixou o emprego no escritório do tio da esposa, último elo que o ligava a ela e à sua vida familiar, e dedicou-se à investigação. Começou por investigar a própria vida, na qual se encaixava aquele homem que há tempos era amante de sua esposa e ele nunca tinha percebido.
Acabou abraçando a nova profissão: Alyrio, o detetive.
Alugou uma sala num antigo edifício da rua Sete de Abril, no centro velho de São Paulo, e começou com pequenos casos, mas logo se tornou um detetive conceituado, um dos melhores da cidade.
Ao se divorciar, caiu na vida. Ia para bares de encontros e vivia uma vida de boêmio, incansável. Até que, numa exposição de arte, conheceu Domitila, uma pintora por quem se apaixonou e que foi aos poucos se tornando seu porto seguro (ela está magistralmente registrada na capa de Peças Fragilizadas).
Alyrio tornou-se amigo de George, seu vizinho de escritório, um viúvo solitário que trabalha em investigações para companhias de seguro. Além disso, George é um gourmet que iniciou Alyrio na arte de comer bem e nos bons restaurantes. É também um fantástico cozinheiro, sempre pronto a preparar refeições caprichadas.
No mesmo edifício trabalha ainda o motoboy Jéferson, o faz-tudo que ajuda nas investigações e participa das happy hours que Alyrio e George promovem quase diariamente.
Nas investigações, Alyrio sempre se envolve com a história da Cidade de São Paulo. Para raciocinar melhor sobre seus casos, ele anda pelo centro velho e visita locais interessantes. Gosta de ir ao edifício Banespa e subir até o terraço: “No terraço do edifício Banespa, Alyrio Cobra observou a paisagem que lá do alto mostrava uma cidade que ia se perdendo num labirinto urbano interminável. No topo do edifício, de algum jeito misterioso, ele sabia que o emaranhar-se e sobrepor-se de construções desordenadas resumia o que acontecia dentro de sua cabeça. A visão daquele tumulto de metrópole, com suas veias serpenteando de maneira mais estranha do que seu pensamento, o tranquilizava. Sentia que as ideias iriam se arrumar de forma a trazer uma solução para o caso em que estava trabalhando.”
Peças Fragilizadas é a terceira aventura de Alyrio Cobra. Existem outras duas: Paisagens Noturnas e Rigor da Forma. Paisagens Noturnas, primeira aventura de Alyrio Cobra, é a história de uma professora assassinada próxima à escola em que lecionava. Alyrio se envolve com pessoas que tentam refazer as sociedades secretas dos poetas românticos que, há quase dois séculos, haviam frequentado a Escola de Direito do Largo de São Francisco. Quando a história está por um fio e tudo depende de sua habilidade de raciocínio, ele caminha pela cidade de São Paulo: “Alyrio atravessou o Viaduto do Chá. Seus passos o levaram para o Largo de São Francisco. Deteve se do outro lado do largo, em frente à fachada de arcadas da atual Universidade de Direito. (…) Naquela hora, o trânsito era intenso e centenas de pessoas andavam de um lado para outro. Para qualquer lado que olhasse, as paredes estavam pichadas, o chão estava sujo e o jardim da praça pisoteado. Tudo denotava maltrato. (…) Era impossível, no meio daquela turba, imaginar a praça como o Largo do Capim do começo do século dezenove, com um chafariz no meio onde os habitantes da redondeza iam buscar água, alguns cavalos pastando calmamente. Como seriam os estudantes com suas casacas escuras e cartolas? E as moças e senhoras daquele tempo? Na corte do Rio de Janeiro, diziam os cronistas da época, as mulheres eram exuberantes, mas em São Paulo tinham fama de provincianas e de andar envoltas em mantilhas. (…) Na época, para quem estivesse a pé ou a cavalo, o cemitério da Consolação era mesmo um lugar ermo e afastado. Saindo da escola, alguns estudantes iam para lá e rolavam em amores extravagantes nas paisagens noturnas que Domitila pintava. (…) Será que suas lembranças eram somente a imaginação agindo, ou vinham de outras vidas, como afirmava Domitila? Um transeunte apressado deu-lhe um forte encontrão e o trouxe de volta à realidade.”
Em Rigor da Forma, a segunda aventura, Alyrio se vê diante da tentativa de um crime perfeito… Tão perfeito como os versos de Francisca Júlia. A trama parte da notícia de um lote de remédios usados para contraste em exames de imagem ter saído com defeito e ter matado muita gente. Uma das personagens está escrevendo uma tese sobre Francisca Júlia. “— Foi uma grande poeta! — Ângela informou, notando o seu olhar de ignorância. — Foi a melhor poeta do nosso parnasianismo, mas, claro, por ser mulher, numa época em que mulheres não significavam grande coisa, está esquecida. Acho que sou uma das poucas pessoas, senão a única, que resolveu estudá-la! Com minha tese, pretendo provar a grandeza de sua poesia!”
Curioso, Alyrio foi com Domitila ao Cemitério do Araçá. Quando o livro foi escrito, a estátua da poeta estava sobre seu túmulo. Agora, foi removida para a Pinacoteca do Estado, e sobre o túmulo colocaram uma cópia de bronze. “Domitila aproveitou o final da claridade e se pôs a fotografar. (…) ela e Alyrio ficaram observando a criação de Brecheret: a mulher grandalhona, de traços perfeitos, corpo sensual, peitos empinados, ventre acolhedor. Mostrava-se uma mulher muito cheia de vida, pronta para embarcar em emoções bem fortes.”
Em Rigor da Forma, Alyrio  vai também com Domitila à Praça Ramos de Azevedo. “Alyrio jamais havia descido a pé na Praça Ramos de Azevedo (…) o conjunto arquitetônico que começava com a figura de Carlos Gomes, seus cabelos revoltos e um olhar lacônico em direção à praça. (…) Estar naquele pequeno trecho da cidade era sair do burburinho da multidão e entrar numa outra vibração. Envoltos naquele ar de cidade fora da cidade, os dois deram-se as mãos e começaram a descer a imponente escada. Há algum tempo, ali era a barranca do rio Anhangabaú. Na metade dos degraus sentia-se a umidade do ar devido à Fonte dos Desejos. (…) Do lado direito havia uma pequena placa, onde estava escrito: ‘Aos 26 de junho de 1952 o prefeito da cidade de São Paulo, Dr. Adhemar Pereira de Barros, recebeu das mãos da escritora italiana Sra. Mercedes La Valle um frasco de água da Fontana di Trevi, cidade de Roma, aqui despejando-a e dando a esta o nome de Fonte dos Desejos’.”
Queridos leitores, estarei de férias até janeiro, quando retomarei minhas crônicas. Desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de alegrias e realizações. Aguardem no começo de janeiro o lançamento de Peças Fragilizadas!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Best-seller tupiniquim

Best-seller tupiniquim

Hoje vou falar um pouco sobre um a reportagem publicada na revista Veja na semana de 29 de fevereiro: “Um país de leitores – E autores”.
Acho muito importante falar sobre isso porque, afinal, todos nós que escrevemos neste blog somos parte de uma editora, a KBR, e somos todos escritores, cheios de sonhos de tornar nossa escrita conhecida, de chegar mais e mais aos leitores.
A reportagem começa afirmando que o livro brasileiro está mais barato e os consumidores estão comprando mais exemplares. Além do livro estar mais barato, também os escritores brasileiros estão provando serem capazes de conquistar o público. Estão descendo da redoma da alta intelectualidade e estão escrevendo literatura de consumo, o tão malfado “entretenimento”!
Claro que entre eles está o policial, gênero que escrevo. Além de termos uma nova classe média que quer se aprimorar, e vai pegando o gosto pela leitura, temos autores falando diretamente para o seu público. Nós, autores nacionais, começamos a fazer sucesso. Maravilha! Começamos a ser comparados a autores estrangeiros. Segundo a reportagem, os escritores brasileiros ainda disputam espaço na ficção com os estrangeiros, mas lideram em todas as outras áreas. Na área de autoajuda, por exemplo, os brasileiros estão disparados na frente. Na espiritualidade, idem. Padre Marcelo que o diga! 7.5 milhões de exemplares de Ágape vendidos! Estamos nas biografias e na história do Brasil.
Enfim! O sonho vai se realizando. O escritor brasileiro vai ganhando espaço. Escrever já não é uma ocupação de intelectuais, mas uma profissão! Já tem muita gente vivendo da literatura.
Na literatura de entretenimento, a reportagem menciona Jô Soares, um apresentador conhecido; poderíamos dizer que seu sucesso se deve ao marketing próprio. Li Xangô de Baker Street e gostei muito, mas existem autores relativamente novos fazendo muito sucesso: André Vianco já criava vampiros muito antes de a Saga Crepúsculo chegar ao Brasil; Eduardo Spohr escreve livros de fantasia e aventura, tratando as lutas entre o bem e o mal. Jô já ultrapassou um milhão de exemplares vendidos, André Vianco está chegando ao milhão e Eduardo Spohr está chegando ao meio milhão.
Nelson Mota, que também se aventurou na área do policial, está fazendo muito sucesso nas biografias. Um amigo meu, Elias Award, que apresenta na Rádio Eldorado o programa “Biografias”, faz sucesso escrevendo… biografias. Na área de espiritualidade, Zíbia Gasparetto é imbatível! Dezesseis milhões de livros vendidos! Seus livros são romances, histórias de amor e dramas familiares com desfechos espirituais. Segundo ela, são todos ditados por espíritos de luz. Há uma xará minha que escreveu Violetas na Janela, também psicografado por espíritos de luz, que vendeu muito e continua vendendo.
Thalita Rebouças, falando de escola, amizade, relação com os pais e sexo para os jovens brasileiros, já ultrapassou o milhão de vendas e realizou a meta de viver da literatura. Na História, Laurentino Gomes lidera com o 1808 e 1822, com Leandro Narloch chegando bem próximo. Roberto Shinyashiki e Augusto Cury vendem milhares de livros com chavões motivacionais e Ana Beatriz Barbosa Silva superou o milhão com Mentes Perigosas e Inquietas.
Sei que há muitos outros escritores que ainda não atingiram números tão expressivos, mas que estão se destacando. Ver estes números é animador para todos nós, escritores. Num país onde o presidente mais popular da história afirmou publicamente que ler lhe causava azia, ver toda a população cada vez mais se interessar por livros é fantástico!

Esta conquista se deve ao florescer de uma nova leva de autores de best-sellers que, com mensagens simples e história ágeis, conseguem levar cultura, diversão e conhecimento a um número cada vez maior de brasileiros.

A hora é agora! O mercado de livros está aquecido! Todos nós, companheiros de ofício e de editora, temos chance. Na lista apresentada pela Veja, faltou justamente o gênero policial! E Alyrio Cobra está aí para suprir esta falta: Peças Fragilizadas já está no mercado. Espero conseguir um número significativo de vendas.

Difícil saber qual a chave do sucesso. A constante de todos os autores mencionados é o trabalho e a perseverança.
Boa sorte para todos nós!

Nota da editora: na data de publicação desta crônica Peças Fragilizadas está em 9º lugar na lista de ebooks mais vendidos da Livraria Cultura.