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terça-feira, 27 de março de 2012

Mercado esquentado

Mercado esquentado

Na Folha de sábado (25/03/2012) há o anúncio de que a editora L&PM está lançando seus livros “de bolsinho”. O slogan publicitário da coleção 64 páginas não poderia ser mais direto: “Do tamanho do seu tempo. E do seu bolso.”  Todos os títulos têm 64 páginas e são vendidos por R$5 em papel e R$3 em e-book. Na última semana fui atropelada por um deles, que está em 1º lugar entre os e-books da Livraria Cultura. Peças Fragilizadas mantém o segundo lugar. UFA! Continuamos lá!
Quanto ao e-book, há muitas notícias boas. A primeira é que a Amazon cravou uma data para começar sua operação de comércio eletrônico no Brasil: 1º de setembro. Segundo o Publishnews só não veio antes por causa de briga com a Saraiva, que vê na Amazon uma fantástica concorrente!
Para os que ainda acham que os livros digitais não estão “vingando”, a Livraria Cultura informa ter, atualmente, 5 mil e-books nacionais e em português disponíveis para compra. É quase 12% mais do que a rede oferecia no fim de janeiro, quando tinha 4.501 títulos no catálogo. Naquele mês, de acordo com pesquisa da Simplíssimo, a Gato Sabido era a maior livraria de e-books do país, com 7.292 livros em português, seguida da Saraiva, com 6.058. A Amazon tinha 3.849. Este mês, com a entrada em operação da Iba, do grupo Abril, o mercado ganhou mais um concorrente, que foi ao ar com 6 mil e-books. A Cultura também informa ter em seu catálogo 261 mil e-books importados. E ainda tem gente falando que o mercado de livros digitais é pequeno!
O fim da versão impressa da Enciclopédia Britânica, anunciado na última semana, é mais uma das provas irrefutáveis das mudanças que ocorrem no mercado livreiro: quase um quarto de milênio de impressões sucessivas da Britânica não foram páreo diante de hábitos desenvolvidos na última década e meia. O que fica claro é que hoje navegar por um site é mais natural do que correr com os dedos uma longa lista de verbetes gravados numa folha de papel. Além de hábitos, há evidências numéricas. Os 32 volumes da edição de 2010 (a última a circular) trazem 120 mil verbetes. A versão inglesa da Wikipédia beira os 4 milhões, e é gratuita.
No atual estágio, um empreendimento impressionante como a Wikipédia, por mais preocupado que seja com a checagem das informações que distribui, ainda está longe do apuro de um processo editorial como o da Britânica, além de sofrer com sabotagens de cunho político e ideológico. A Britânica aposta nesse diferencial para continuar a vender assinaturas de sua versão eletrônica. A grande questão, que em muito também atormenta jornais e revistas, é saber se o consumidor atual está disposto a pagar por uma informação que se habituou a conseguir de graça.
Apesar disso, jornais famosos estão lançando livros digitais. O La Vanguardia, um jornal catalão, lançou nada menos do que 100 títulos de e-book desde novembro. O jornal inglês The Guardian já tem mais de 20 e-books publicados, e a Cosmopolitan já lançou diversos livros digitais cujo alvo são as próprias leitoras da revista. Nesta semana, a National Geographic lançou seu primeiro e-book.
Só falta a Amazon chegar com os tablets a preços baixos para o mercado esquentar para valer! Que bom que estamos nesta!
Até a próxima.

terça-feira, 20 de março de 2012

Tenente Columbo

Tenente Columbo


Estive de férias e estou retornando. Espero que tenham passado um ótimo Natal, e tenham entrado 2012 com o pé direito. No final de janeiro entramos no ano do dragão, e espero que para todos nós seja um dragão que não exale muito ácido sulfuroso pelas ventas!
Peças fragilizadas, a  nova aventura do detetive Alyrio Cobra, foi publicada e está disponível como e-book em todas as livrarias virtuais. Este livro entrou no mercado com o pé direito! Na primeira semana já está na lista dos e-books mais vendidos da Livraria Cultura! Maravilha! E semana que vem já estará lá como POD também!

Minha última crônica antes das férias foi sobre o detetive Alyrio Cobra. Se quiserem conhecê-lo melhor, leiam aqui no Blog da KBR: Alyrio Cobra, o detetive paulistano. Durante as férias, estive com meus netinhos que vivem na Itália. Como eles são pequenos, tem três e quatro anos, não tive muito tempo para leituras, mas assisti muita TV. Lá exibem seriados antigos e aproveitei para revê-los, entre eles, várias vezes por semana, o “Tenente Columbo”. Fora o fato de que lá ele fala italiano, deliciei-me com suas aventuras. Incrível como eu me lembrava do tempo que o assistia aqui no Brasil, falando português.
Hoje assistimos “CSI”, “Lost”, “Law and Order”, “Criminal Intent”, “House” e tantos outros seriados cheios de suspense e tecnologia. No entanto, nos anos 1970 o tenente Columbo (seu primeiro nome jamais foi revelado) da polícia de Los Angeles era fantástico, um roteiro superinovador.
Aqui no Brasil já revi alguns dos episódios , mas revendo-os lá na Itália pude perceber que o ápice da arte de escrever para televisão foi atingido em Columbo. O seriado nasceu de uma peça de teatro escrita pela dupla Richard Levinson e William Link, na qual um psiquiatra cria um plot perfeito para matar a esposa rica… ou um plot que parece perfeito, até que Columbo entra em cena. A peça fez sucesso e foi filmada, já com Peter Falk no papel, anos antes de o detetive ganhar seu seriado. O primeiro episódio da série foi dirigido por um jovem de 25 anos: Steven Spielberg.
Columbo foi um seriado policial inovador na medida em que adotava não o formato “whodunnit” (quem cometeu o crime), mas sim “howdhecatchem” (sabendo quem é o culpado, como o pegaram?).
Um episódio padrão do tenente Columbo tinha o seguinte formato: no primeiro bloco, o telespectador assistia o crime muito bem engendrado sendo cometido: via o motivo, a arma, a oportunidade, as providências do criminoso para esconder seu feito, em geral, um álibi perfeito. Nos blocos seguintes — e era aí que a história ficava de um jeito que ninguém conseguia sair da cadeira — assistia-se o tenente Columbo descobrir, um a um, todos os erros cometidos pelo assassino. De uma forma bastante desajeitada, sem nenhuma tecnologia com as que conhecemos nos dias de hoje, lançava mão de uma série de armadilhas psicológicas que acabavam levando o assassino a confessar, ou a produzir a evidência necessária para condená-lo. Como já disse, era o ápice da arte de escrever para a TV, o suspense atingindo pontos altíssimos, o telespectador não conseguindo sair da frente da telinha por nada deste mundo!
Houve críticos que o condenaram: afirmavam que Columbo era um torturador, pior que os assassinos que prendia — já que a técnica psicológica do personagem de induzir o culpado a confessar muitas vezes envolvia boas doses de crueldade mental. Columbo ou dava a entender ao culpado, por meio de elipses e circunlóquios, que sabia quem ele era e o que tinha feito, causando não pouca angústia, ou se fazia de tolo, gerando um falso senso de segurança que precedia a queda. Esse era o método de Columbo.
Na época, se o compararmos à tecnologia de CSI e todo o aparato moderno das polícias americanas, Columbo só dispunha da própria inteligência e das técnicas psicológicas “torturantes”. Diga-se de passagem, ele sequer usava arma.
O seriado foi primeiro escrito, para depois virar imagem. E as contribuições de Peter Falk à construção do personagem são famosas: o ator, que tinha um olho de vidro, usava o olho ligeiramente fora de centro para fazer o personagem, dando ao detetive um ar apalermado (a estratégia básica de Columbo era fazer-se subestimar pelos suspeitos); além disso, o sobretudo amarrotado e desabotoado, marca registrada de Columbo, foi outra ideia do ator. Na Califórnia da época, ele dirigia um carro velho, cujo motor, pelo barulho, parecia prestes a fundir. Surrado, sujo e amassado, o conversível ficou famoso.
Também o charuto vagabundo que vivia em sua mão, e que ele acendia e reacendia tirando baforadas fedorentas (era possível sentir o odor através da tela!), fazia parte da caracterização. Por vezes, quando ia aplicar as técnicas “torturantes” levava seu cachorro.
O seriado teve vilões clássicos, como o enólogo interpretado por Donald Pleasance, que mata o irmão que decidira vender os vinhedos da família; o cantor gospel assassino interpretado por ninguém menos que Johnny Cash; o maestro frio e calculista vivido por John Cassavetes. Teve também vítimas memoráveis, como o escritor de best-sellers interpretado por Mickey Spillane.
O tenente Columbo era o tipo de detetive que não chamava a atenção. Não era do tipo de sair dando socos e tiros, nem de sair em loucas perseguições automobilísticas. Também não era o detetive que seduzia mulheres; muitas vezes mencionava sua esposa e era o inverso do galã americano tradicional, mas conseguia desvendar os mais complicados casos de assassinato.

Peter Falk interpretou Columbo pela última vez em 2003. Havia sido o tenente pela primeira vez em 1968: por pouco não completou 40 anos como o mais sagaz dos detetives da televisão.
Até a próxima!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Leitura digital

Leitura digital

A revista Veja de 14 de março de 2012, que recebi no último sábado, veio com uma sobrecapa: era o anúncio da nova plataforma para leitura digital, a iba. Apresentada como uma nova maneira de ler, é a gigante ABRIL entrando com força total no mercado da leitura digital.

Se você se cadastrar, como eu fiz, tem que baixar o aplicativo e ganha 5 revistas, um jornal e 10 livros.
Não estou fazendo propaganda gratuita para eles, mas acho muito bom isso que está acontecendo. Estão doando muita coisa boa como uma forma de fazer com que os leitores se acostumem à leitura digital. São nossos concorrentes, mas também estão nos abrindo mercado, criando mais leitores digitais.

Muito se discute sobre a leitura digital. Alguns acham que o livro de papel vai acabar, outros que a leitura digital não vai vingar. O futuro a Deus pertence! Mas o livro digital está chegando com força. Temos que nos acostumar. Eu mesma, na batalha de promover Peças Fragilizadas, tenho dado muitas explicações aos meus leitores de como baixar o aplicativo e depois o livro.
Em geral, fala-se como se o surgimento do e-book fosse acabar com o livro impresso e também com a cadeia de produção. Isso quer dizer, objetivamente, que as gráficas teriam que encontrar formas alternativas de utilizar a sua força produtora de livros comuns, investindo em técnicas de produção mais elaboradas para diferenciar seus produtos ou em impressos para outros segmentos. As livrarias, por sua vez, passariam a focar também em outros produtos (como já fazem) e a fortalecer seu braço virtual.
Acredito que um livro para ser “o livro”, continua precisando de todas as etapas: obviamente, o escritor, o editor, o revisor, o diagramador, designers, agências de marketing com estratégias de lançamento etc. A diferença é o suporte: sai o papel e entra o tablet. O conteúdo básico do livro é o mesmo, e as qualidades, também.
Podemos dizer que o futuro a Deus pertence, mas o passado é conhecido. A Kodak, gigante da fotografia, insistiu que seus clientes queriam fotografias em papel, quando o que eles queriam eram imagens. Quando a tecnologia permitiu a livre transmigração das imagens, com as câmaras digitais e os arquivos jpg, deu-se o lamentável “momento Kodak”: sem alternativas, ela teve que aderir às fotografias digitais. O mesmo aconteceu com a outrora poderosa indústria fonográfica, que queria vender discos, quando as pessoas queriam comprar músicas.
Estaria a indústria editorial fadada a seguir os passos que levaram a indústria fonográfica ao abismo? Ou será que encontraremos novos caminhos para vender o livro, em um mercado multiformato? Particularmente, acredito que haverá lugar para todos. O livro impresso jamais deixará de existir e coabitará em perfeita paz com o livro digital.
O que acho importante ressaltar é que em toda a discussão sobre a leitura digital, fala-se do livro digital como uma coisa menor, uma autopublicação sem as qualidades necessárias ao livro. Só para lembrar, um dos maiores sucessos recentes, A Cabana, foi originalmente uma autopublicação; Diário de um banana, um blog; e Meu pai diz cada merda, um twitter.

Claro que todos eles para entrarem no mercado editorial tiveram editores, revisores, diagramadores etc. etc.
Os novos formatos dão a autores que não eram conhecidos a chance  de entrar no mercado, reafirmando que o livro que merece ser publicado é aquele que tem público interessado em lê-lo.

Vamos aguardar o próximo lance, que deve ser a gigante Amazon chegar ao Brasil! E desta, nós da KBR já fazemos parte.
Até a próxima.

terça-feira, 13 de março de 2012

Alyrio Cobra: o detetive paulistano

Alyrio Cobra: o detetive paulistano

Queridos leitores, minhas últimas crônicas sobre o gênero policial foram fenômeno de repercussão no blog da KBR. Ultrapassaram a marca de 400 curtidas! Acredito que ao lermos um livro policial, pensamos somente numa leitura de entretenimento. No entanto, existe uma História muito interessante por trás desse gênero, e é isso que venho tentando mostrar. Daí o interesse.
Na próxima semana entrarei de férias, pois vou passar o Natal com parte da família que vive fora do Brasil. Adoro ler livros policiais e acompanho as publicações, mas para escrever crônicas, é preciso reler e pesquisar. O que toma bastante tempo.
Peças Fragilizadas, uma das aventuras de Alyrio Cobra, estará no mercado em ebook nas primeiras semanas de janeiro de 2013. Tenho certeza de que todos que curtiram as crônicas, vão gostar da história. Vão curtir o entretenimento. Alyrio Cobra ainda não é famoso como todos os outros sobre os quais escrevi. Vou, portanto, falar sobre ele, para que vocês o conheçam melhor.
Alyrio Cobra inicia suas aventuras baseado em notícias que circulam nos meios de comunicação. No caso de Peças Fragilizadas, selecionei uma bastante extravagante: o sequestro de um homem que estava em um carro blindado, de onde seria praticamente impossível ser sequestrado.
Nessa história de fachadas, simulações e disfarces, quem contrata o detetive Alyrio Cobra é Joca, o bandido contratado para matar o sequestrado. Além de disparar os tiros, Joca confessou o crime. Para quem realmente o orquestrou, havia motivo e culpado. Joca conseguiu a fuga da cadeia e levou uma boa grana. Não se preocupou com nada, além de comemorar e continuar seu trabalho de traficante, até perceber que todos os que estiveram ligados ao crime de alguma forma estavam sendo abatidos, mortes isoladas que dificilmente seriam associadas ao sequestro do qual participara.
Até então, Joca não interessava pela corrupção dos políticos. Sabia que o sequestrado era um homem atuante na área dos transportes da cidade de São Paulo, um arquivo vivo que precisava ser apagado. Matou mais um, só isso, sem remorsos. Mas ao sentir a própria vida em perigo, contratou Alyrio Cobra para desvendar toda a sujeira envolvida. Acreditava que se tivesse um dossiê completo, e soubesse os segredos que o morto escondia, sua vida seria poupada. Alyrio foi contratado e… Bem. Aí vocês vão ter que ler o livro para saber!
Devo ter falado em alguma das crônicas que descobri o real prazer da leitura com as aventuras de Sherlock Holmes. No meu tempo de escola, além de gostar de ler, fui boa aluna em matemática. Acredito que para escrever livros policiais é preciso alguma habilidade em montar equações matemáticas, de acordo com a lógica. Para montar e resolver as equações, criei o detetive Alyrio Cobra.
Alyrio nasceu e cresceu na cidade de São Paulo. Teve infância e adolescência sem grandes problemas. Formou-se advogado, casou-se. Passou a trabalhar no escritório de advocacia de um tio de sua esposa. Teve dois filhos e viveu feliz, até que sua esposa anunciou que amava outro homem e queria o divórcio: tudo o que ele imaginara ser felicidade, nada significava  para sua esposa. Ficou de tal forma atônito que concordou com tudo. Até assinou a permissão para que os filhos fossem viver com ela e o novo marido em Miami. Deixou o emprego no escritório do tio da esposa, último elo que o ligava a ela e à sua vida familiar, e dedicou-se à investigação. Começou por investigar a própria vida, na qual se encaixava aquele homem que há tempos era amante de sua esposa e ele nunca tinha percebido.
Acabou abraçando a nova profissão: Alyrio, o detetive.
Alugou uma sala num antigo edifício da rua Sete de Abril, no centro velho de São Paulo, e começou com pequenos casos, mas logo se tornou um detetive conceituado, um dos melhores da cidade.
Ao se divorciar, caiu na vida. Ia para bares de encontros e vivia uma vida de boêmio, incansável. Até que, numa exposição de arte, conheceu Domitila, uma pintora por quem se apaixonou e que foi aos poucos se tornando seu porto seguro (ela está magistralmente registrada na capa de Peças Fragilizadas).
Alyrio tornou-se amigo de George, seu vizinho de escritório, um viúvo solitário que trabalha em investigações para companhias de seguro. Além disso, George é um gourmet que iniciou Alyrio na arte de comer bem e nos bons restaurantes. É também um fantástico cozinheiro, sempre pronto a preparar refeições caprichadas.
No mesmo edifício trabalha ainda o motoboy Jéferson, o faz-tudo que ajuda nas investigações e participa das happy hours que Alyrio e George promovem quase diariamente.
Nas investigações, Alyrio sempre se envolve com a história da Cidade de São Paulo. Para raciocinar melhor sobre seus casos, ele anda pelo centro velho e visita locais interessantes. Gosta de ir ao edifício Banespa e subir até o terraço: “No terraço do edifício Banespa, Alyrio Cobra observou a paisagem que lá do alto mostrava uma cidade que ia se perdendo num labirinto urbano interminável. No topo do edifício, de algum jeito misterioso, ele sabia que o emaranhar-se e sobrepor-se de construções desordenadas resumia o que acontecia dentro de sua cabeça. A visão daquele tumulto de metrópole, com suas veias serpenteando de maneira mais estranha do que seu pensamento, o tranquilizava. Sentia que as ideias iriam se arrumar de forma a trazer uma solução para o caso em que estava trabalhando.”
Peças Fragilizadas é a terceira aventura de Alyrio Cobra. Existem outras duas: Paisagens Noturnas e Rigor da Forma. Paisagens Noturnas, primeira aventura de Alyrio Cobra, é a história de uma professora assassinada próxima à escola em que lecionava. Alyrio se envolve com pessoas que tentam refazer as sociedades secretas dos poetas românticos que, há quase dois séculos, haviam frequentado a Escola de Direito do Largo de São Francisco. Quando a história está por um fio e tudo depende de sua habilidade de raciocínio, ele caminha pela cidade de São Paulo: “Alyrio atravessou o Viaduto do Chá. Seus passos o levaram para o Largo de São Francisco. Deteve se do outro lado do largo, em frente à fachada de arcadas da atual Universidade de Direito. (…) Naquela hora, o trânsito era intenso e centenas de pessoas andavam de um lado para outro. Para qualquer lado que olhasse, as paredes estavam pichadas, o chão estava sujo e o jardim da praça pisoteado. Tudo denotava maltrato. (…) Era impossível, no meio daquela turba, imaginar a praça como o Largo do Capim do começo do século dezenove, com um chafariz no meio onde os habitantes da redondeza iam buscar água, alguns cavalos pastando calmamente. Como seriam os estudantes com suas casacas escuras e cartolas? E as moças e senhoras daquele tempo? Na corte do Rio de Janeiro, diziam os cronistas da época, as mulheres eram exuberantes, mas em São Paulo tinham fama de provincianas e de andar envoltas em mantilhas. (…) Na época, para quem estivesse a pé ou a cavalo, o cemitério da Consolação era mesmo um lugar ermo e afastado. Saindo da escola, alguns estudantes iam para lá e rolavam em amores extravagantes nas paisagens noturnas que Domitila pintava. (…) Será que suas lembranças eram somente a imaginação agindo, ou vinham de outras vidas, como afirmava Domitila? Um transeunte apressado deu-lhe um forte encontrão e o trouxe de volta à realidade.”
Em Rigor da Forma, a segunda aventura, Alyrio se vê diante da tentativa de um crime perfeito… Tão perfeito como os versos de Francisca Júlia. A trama parte da notícia de um lote de remédios usados para contraste em exames de imagem ter saído com defeito e ter matado muita gente. Uma das personagens está escrevendo uma tese sobre Francisca Júlia. “— Foi uma grande poeta! — Ângela informou, notando o seu olhar de ignorância. — Foi a melhor poeta do nosso parnasianismo, mas, claro, por ser mulher, numa época em que mulheres não significavam grande coisa, está esquecida. Acho que sou uma das poucas pessoas, senão a única, que resolveu estudá-la! Com minha tese, pretendo provar a grandeza de sua poesia!”
Curioso, Alyrio foi com Domitila ao Cemitério do Araçá. Quando o livro foi escrito, a estátua da poeta estava sobre seu túmulo. Agora, foi removida para a Pinacoteca do Estado, e sobre o túmulo colocaram uma cópia de bronze. “Domitila aproveitou o final da claridade e se pôs a fotografar. (…) ela e Alyrio ficaram observando a criação de Brecheret: a mulher grandalhona, de traços perfeitos, corpo sensual, peitos empinados, ventre acolhedor. Mostrava-se uma mulher muito cheia de vida, pronta para embarcar em emoções bem fortes.”
Em Rigor da Forma, Alyrio  vai também com Domitila à Praça Ramos de Azevedo. “Alyrio jamais havia descido a pé na Praça Ramos de Azevedo (…) o conjunto arquitetônico que começava com a figura de Carlos Gomes, seus cabelos revoltos e um olhar lacônico em direção à praça. (…) Estar naquele pequeno trecho da cidade era sair do burburinho da multidão e entrar numa outra vibração. Envoltos naquele ar de cidade fora da cidade, os dois deram-se as mãos e começaram a descer a imponente escada. Há algum tempo, ali era a barranca do rio Anhangabaú. Na metade dos degraus sentia-se a umidade do ar devido à Fonte dos Desejos. (…) Do lado direito havia uma pequena placa, onde estava escrito: ‘Aos 26 de junho de 1952 o prefeito da cidade de São Paulo, Dr. Adhemar Pereira de Barros, recebeu das mãos da escritora italiana Sra. Mercedes La Valle um frasco de água da Fontana di Trevi, cidade de Roma, aqui despejando-a e dando a esta o nome de Fonte dos Desejos’.”
Queridos leitores, estarei de férias até janeiro, quando retomarei minhas crônicas. Desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de alegrias e realizações. Aguardem no começo de janeiro o lançamento de Peças Fragilizadas!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Best-seller tupiniquim

Best-seller tupiniquim

Hoje vou falar um pouco sobre um a reportagem publicada na revista Veja na semana de 29 de fevereiro: “Um país de leitores – E autores”.
Acho muito importante falar sobre isso porque, afinal, todos nós que escrevemos neste blog somos parte de uma editora, a KBR, e somos todos escritores, cheios de sonhos de tornar nossa escrita conhecida, de chegar mais e mais aos leitores.
A reportagem começa afirmando que o livro brasileiro está mais barato e os consumidores estão comprando mais exemplares. Além do livro estar mais barato, também os escritores brasileiros estão provando serem capazes de conquistar o público. Estão descendo da redoma da alta intelectualidade e estão escrevendo literatura de consumo, o tão malfado “entretenimento”!
Claro que entre eles está o policial, gênero que escrevo. Além de termos uma nova classe média que quer se aprimorar, e vai pegando o gosto pela leitura, temos autores falando diretamente para o seu público. Nós, autores nacionais, começamos a fazer sucesso. Maravilha! Começamos a ser comparados a autores estrangeiros. Segundo a reportagem, os escritores brasileiros ainda disputam espaço na ficção com os estrangeiros, mas lideram em todas as outras áreas. Na área de autoajuda, por exemplo, os brasileiros estão disparados na frente. Na espiritualidade, idem. Padre Marcelo que o diga! 7.5 milhões de exemplares de Ágape vendidos! Estamos nas biografias e na história do Brasil.
Enfim! O sonho vai se realizando. O escritor brasileiro vai ganhando espaço. Escrever já não é uma ocupação de intelectuais, mas uma profissão! Já tem muita gente vivendo da literatura.
Na literatura de entretenimento, a reportagem menciona Jô Soares, um apresentador conhecido; poderíamos dizer que seu sucesso se deve ao marketing próprio. Li Xangô de Baker Street e gostei muito, mas existem autores relativamente novos fazendo muito sucesso: André Vianco já criava vampiros muito antes de a Saga Crepúsculo chegar ao Brasil; Eduardo Spohr escreve livros de fantasia e aventura, tratando as lutas entre o bem e o mal. Jô já ultrapassou um milhão de exemplares vendidos, André Vianco está chegando ao milhão e Eduardo Spohr está chegando ao meio milhão.
Nelson Mota, que também se aventurou na área do policial, está fazendo muito sucesso nas biografias. Um amigo meu, Elias Award, que apresenta na Rádio Eldorado o programa “Biografias”, faz sucesso escrevendo… biografias. Na área de espiritualidade, Zíbia Gasparetto é imbatível! Dezesseis milhões de livros vendidos! Seus livros são romances, histórias de amor e dramas familiares com desfechos espirituais. Segundo ela, são todos ditados por espíritos de luz. Há uma xará minha que escreveu Violetas na Janela, também psicografado por espíritos de luz, que vendeu muito e continua vendendo.
Thalita Rebouças, falando de escola, amizade, relação com os pais e sexo para os jovens brasileiros, já ultrapassou o milhão de vendas e realizou a meta de viver da literatura. Na História, Laurentino Gomes lidera com o 1808 e 1822, com Leandro Narloch chegando bem próximo. Roberto Shinyashiki e Augusto Cury vendem milhares de livros com chavões motivacionais e Ana Beatriz Barbosa Silva superou o milhão com Mentes Perigosas e Inquietas.
Sei que há muitos outros escritores que ainda não atingiram números tão expressivos, mas que estão se destacando. Ver estes números é animador para todos nós, escritores. Num país onde o presidente mais popular da história afirmou publicamente que ler lhe causava azia, ver toda a população cada vez mais se interessar por livros é fantástico!

Esta conquista se deve ao florescer de uma nova leva de autores de best-sellers que, com mensagens simples e história ágeis, conseguem levar cultura, diversão e conhecimento a um número cada vez maior de brasileiros.

A hora é agora! O mercado de livros está aquecido! Todos nós, companheiros de ofício e de editora, temos chance. Na lista apresentada pela Veja, faltou justamente o gênero policial! E Alyrio Cobra está aí para suprir esta falta: Peças Fragilizadas já está no mercado. Espero conseguir um número significativo de vendas.

Difícil saber qual a chave do sucesso. A constante de todos os autores mencionados é o trabalho e a perseverança.
Boa sorte para todos nós!

Nota da editora: na data de publicação desta crônica Peças Fragilizadas está em 9º lugar na lista de ebooks mais vendidos da Livraria Cultura.