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terça-feira, 13 de março de 2012

Alyrio Cobra: o detetive paulistano

Alyrio Cobra: o detetive paulistano

Queridos leitores, minhas últimas crônicas sobre o gênero policial foram fenômeno de repercussão no blog da KBR. Ultrapassaram a marca de 400 curtidas! Acredito que ao lermos um livro policial, pensamos somente numa leitura de entretenimento. No entanto, existe uma História muito interessante por trás desse gênero, e é isso que venho tentando mostrar. Daí o interesse.
Na próxima semana entrarei de férias, pois vou passar o Natal com parte da família que vive fora do Brasil. Adoro ler livros policiais e acompanho as publicações, mas para escrever crônicas, é preciso reler e pesquisar. O que toma bastante tempo.
Peças Fragilizadas, uma das aventuras de Alyrio Cobra, estará no mercado em ebook nas primeiras semanas de janeiro de 2013. Tenho certeza de que todos que curtiram as crônicas, vão gostar da história. Vão curtir o entretenimento. Alyrio Cobra ainda não é famoso como todos os outros sobre os quais escrevi. Vou, portanto, falar sobre ele, para que vocês o conheçam melhor.
Alyrio Cobra inicia suas aventuras baseado em notícias que circulam nos meios de comunicação. No caso de Peças Fragilizadas, selecionei uma bastante extravagante: o sequestro de um homem que estava em um carro blindado, de onde seria praticamente impossível ser sequestrado.
Nessa história de fachadas, simulações e disfarces, quem contrata o detetive Alyrio Cobra é Joca, o bandido contratado para matar o sequestrado. Além de disparar os tiros, Joca confessou o crime. Para quem realmente o orquestrou, havia motivo e culpado. Joca conseguiu a fuga da cadeia e levou uma boa grana. Não se preocupou com nada, além de comemorar e continuar seu trabalho de traficante, até perceber que todos os que estiveram ligados ao crime de alguma forma estavam sendo abatidos, mortes isoladas que dificilmente seriam associadas ao sequestro do qual participara.
Até então, Joca não interessava pela corrupção dos políticos. Sabia que o sequestrado era um homem atuante na área dos transportes da cidade de São Paulo, um arquivo vivo que precisava ser apagado. Matou mais um, só isso, sem remorsos. Mas ao sentir a própria vida em perigo, contratou Alyrio Cobra para desvendar toda a sujeira envolvida. Acreditava que se tivesse um dossiê completo, e soubesse os segredos que o morto escondia, sua vida seria poupada. Alyrio foi contratado e… Bem. Aí vocês vão ter que ler o livro para saber!
Devo ter falado em alguma das crônicas que descobri o real prazer da leitura com as aventuras de Sherlock Holmes. No meu tempo de escola, além de gostar de ler, fui boa aluna em matemática. Acredito que para escrever livros policiais é preciso alguma habilidade em montar equações matemáticas, de acordo com a lógica. Para montar e resolver as equações, criei o detetive Alyrio Cobra.
Alyrio nasceu e cresceu na cidade de São Paulo. Teve infância e adolescência sem grandes problemas. Formou-se advogado, casou-se. Passou a trabalhar no escritório de advocacia de um tio de sua esposa. Teve dois filhos e viveu feliz, até que sua esposa anunciou que amava outro homem e queria o divórcio: tudo o que ele imaginara ser felicidade, nada significava  para sua esposa. Ficou de tal forma atônito que concordou com tudo. Até assinou a permissão para que os filhos fossem viver com ela e o novo marido em Miami. Deixou o emprego no escritório do tio da esposa, último elo que o ligava a ela e à sua vida familiar, e dedicou-se à investigação. Começou por investigar a própria vida, na qual se encaixava aquele homem que há tempos era amante de sua esposa e ele nunca tinha percebido.
Acabou abraçando a nova profissão: Alyrio, o detetive.
Alugou uma sala num antigo edifício da rua Sete de Abril, no centro velho de São Paulo, e começou com pequenos casos, mas logo se tornou um detetive conceituado, um dos melhores da cidade.
Ao se divorciar, caiu na vida. Ia para bares de encontros e vivia uma vida de boêmio, incansável. Até que, numa exposição de arte, conheceu Domitila, uma pintora por quem se apaixonou e que foi aos poucos se tornando seu porto seguro (ela está magistralmente registrada na capa de Peças Fragilizadas).
Alyrio tornou-se amigo de George, seu vizinho de escritório, um viúvo solitário que trabalha em investigações para companhias de seguro. Além disso, George é um gourmet que iniciou Alyrio na arte de comer bem e nos bons restaurantes. É também um fantástico cozinheiro, sempre pronto a preparar refeições caprichadas.
No mesmo edifício trabalha ainda o motoboy Jéferson, o faz-tudo que ajuda nas investigações e participa das happy hours que Alyrio e George promovem quase diariamente.
Nas investigações, Alyrio sempre se envolve com a história da Cidade de São Paulo. Para raciocinar melhor sobre seus casos, ele anda pelo centro velho e visita locais interessantes. Gosta de ir ao edifício Banespa e subir até o terraço: “No terraço do edifício Banespa, Alyrio Cobra observou a paisagem que lá do alto mostrava uma cidade que ia se perdendo num labirinto urbano interminável. No topo do edifício, de algum jeito misterioso, ele sabia que o emaranhar-se e sobrepor-se de construções desordenadas resumia o que acontecia dentro de sua cabeça. A visão daquele tumulto de metrópole, com suas veias serpenteando de maneira mais estranha do que seu pensamento, o tranquilizava. Sentia que as ideias iriam se arrumar de forma a trazer uma solução para o caso em que estava trabalhando.”
Peças Fragilizadas é a terceira aventura de Alyrio Cobra. Existem outras duas: Paisagens Noturnas e Rigor da Forma. Paisagens Noturnas, primeira aventura de Alyrio Cobra, é a história de uma professora assassinada próxima à escola em que lecionava. Alyrio se envolve com pessoas que tentam refazer as sociedades secretas dos poetas românticos que, há quase dois séculos, haviam frequentado a Escola de Direito do Largo de São Francisco. Quando a história está por um fio e tudo depende de sua habilidade de raciocínio, ele caminha pela cidade de São Paulo: “Alyrio atravessou o Viaduto do Chá. Seus passos o levaram para o Largo de São Francisco. Deteve se do outro lado do largo, em frente à fachada de arcadas da atual Universidade de Direito. (…) Naquela hora, o trânsito era intenso e centenas de pessoas andavam de um lado para outro. Para qualquer lado que olhasse, as paredes estavam pichadas, o chão estava sujo e o jardim da praça pisoteado. Tudo denotava maltrato. (…) Era impossível, no meio daquela turba, imaginar a praça como o Largo do Capim do começo do século dezenove, com um chafariz no meio onde os habitantes da redondeza iam buscar água, alguns cavalos pastando calmamente. Como seriam os estudantes com suas casacas escuras e cartolas? E as moças e senhoras daquele tempo? Na corte do Rio de Janeiro, diziam os cronistas da época, as mulheres eram exuberantes, mas em São Paulo tinham fama de provincianas e de andar envoltas em mantilhas. (…) Na época, para quem estivesse a pé ou a cavalo, o cemitério da Consolação era mesmo um lugar ermo e afastado. Saindo da escola, alguns estudantes iam para lá e rolavam em amores extravagantes nas paisagens noturnas que Domitila pintava. (…) Será que suas lembranças eram somente a imaginação agindo, ou vinham de outras vidas, como afirmava Domitila? Um transeunte apressado deu-lhe um forte encontrão e o trouxe de volta à realidade.”
Em Rigor da Forma, a segunda aventura, Alyrio se vê diante da tentativa de um crime perfeito… Tão perfeito como os versos de Francisca Júlia. A trama parte da notícia de um lote de remédios usados para contraste em exames de imagem ter saído com defeito e ter matado muita gente. Uma das personagens está escrevendo uma tese sobre Francisca Júlia. “— Foi uma grande poeta! — Ângela informou, notando o seu olhar de ignorância. — Foi a melhor poeta do nosso parnasianismo, mas, claro, por ser mulher, numa época em que mulheres não significavam grande coisa, está esquecida. Acho que sou uma das poucas pessoas, senão a única, que resolveu estudá-la! Com minha tese, pretendo provar a grandeza de sua poesia!”
Curioso, Alyrio foi com Domitila ao Cemitério do Araçá. Quando o livro foi escrito, a estátua da poeta estava sobre seu túmulo. Agora, foi removida para a Pinacoteca do Estado, e sobre o túmulo colocaram uma cópia de bronze. “Domitila aproveitou o final da claridade e se pôs a fotografar. (…) ela e Alyrio ficaram observando a criação de Brecheret: a mulher grandalhona, de traços perfeitos, corpo sensual, peitos empinados, ventre acolhedor. Mostrava-se uma mulher muito cheia de vida, pronta para embarcar em emoções bem fortes.”
Em Rigor da Forma, Alyrio  vai também com Domitila à Praça Ramos de Azevedo. “Alyrio jamais havia descido a pé na Praça Ramos de Azevedo (…) o conjunto arquitetônico que começava com a figura de Carlos Gomes, seus cabelos revoltos e um olhar lacônico em direção à praça. (…) Estar naquele pequeno trecho da cidade era sair do burburinho da multidão e entrar numa outra vibração. Envoltos naquele ar de cidade fora da cidade, os dois deram-se as mãos e começaram a descer a imponente escada. Há algum tempo, ali era a barranca do rio Anhangabaú. Na metade dos degraus sentia-se a umidade do ar devido à Fonte dos Desejos. (…) Do lado direito havia uma pequena placa, onde estava escrito: ‘Aos 26 de junho de 1952 o prefeito da cidade de São Paulo, Dr. Adhemar Pereira de Barros, recebeu das mãos da escritora italiana Sra. Mercedes La Valle um frasco de água da Fontana di Trevi, cidade de Roma, aqui despejando-a e dando a esta o nome de Fonte dos Desejos’.”
Queridos leitores, estarei de férias até janeiro, quando retomarei minhas crônicas. Desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de alegrias e realizações. Aguardem no começo de janeiro o lançamento de Peças Fragilizadas!

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