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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Meu nome é Bond, James Bond!

Meu nome é Bond, James Bond!

Na semana passada falei sobre Nero Wolfe, um dos detetives mais cerebrais da literatura mundial. Nele, além de ótimas refeições e criação de orquídeas, tudo era raciocínio.
No entanto, o que acabou por caracterizar o noir americano foi a ação, o detetive durão, as mulheres sensuais e perigosas, o automóvel, enfim, a fórmula absorvendo as modernidades de cada época.
O detetive durão é hoje tão parte do folclore americano quanto o pioneiro da fronteira ou o caubói, e como a maioria dos heróis muitas vezes tem seus feitos exagerados. Na verdade, a aparente ilimitada capacidade de beber dessas personagens e a maneira espantosa como se recuperam de surras, cacetadas e ferimentos sangrentos são quase sobre-humanas. Não há dúvida de que nenhum mortal comum poderia igualar-se.
Sempre me perguntei o que tornou tão populares essas figuras caricatas. Houve o período de depressão americana após a Primeira Guerra Mundial, em que muita gente se sentia frustrada diante dos chefões do crime organizado e políticos não muito sérios. O detetive que surgiu na ficção da época (especialmente Chandler, Hammett e M. Cain) estava empenhado numa cruzada contra os males da sociedade, se dedicando à manutenção da justiça. Como escrevi logo nas primeiras crônicas, é sempre uma luta do bem contra o mal, e o leitor precisa de um final feliz; sentir que o bem vence o mal, mesmo que seja somente na ficção, é o que faz do leitor um viciado.

Bem, na vida real aconteceu a Segunda Guerra Mundial e a figura do detetive continuou lá. Imbatível!
Nesse clima de pós-guerra, exatamente em 1953, surgiu James Bond no livro Cassino Royale, outra fórmula repetida várias vezes que deu certíssimo! Como o mundo inteiro sabe, James Bond é um agente secreto do serviço de espionagem britânico criado pelo escritor Ian Fleming.

Sei que é um desafio falar sobre personagens tão famosos, com muita literatura sobre o assunto. No caso, estou relembrando o personagem e mais uma das fórmulas que deu certo.
Antes de virar filme, Bond era literatura. Foi descrito como um homem alto, moreno, de olhar penetrante, viril, porte atlético e sedutor, com idade estimada entre 33 e 40 anos, apreciador de martini seco (batido, não mexido) exímio atirador com licença 00 para matar — sétimo agente desta categoria especial, daí seu código 007 — e perito em artes marciais, que combatia o mal pelo mundo a serviço do governo de Sua Majestade, com charme, elegância e cercado de belas mulheres, sempre se apresentando com a famosa frase “Meu nome é Bond, James Bond”.
O personagem, apresentado ao público em livros de bolso na década de 1950, tornou-se um sucesso de vendas e popularidade entre os britânicos e, logo a seguir, entre os países de língua inglesa. Na década seguinte, os livros viraram uma grande franquia no cinema, a mais duradora e bem-sucedida financeiramente, com um total de vinte dois filmes oficiais, começando com O Satânico Dr. No, em 1962.
Ian Fleming escreveu doze livros e dois contos protagonizados por James Bond, antes de morrer, em 1964. Após sua morte, outros livros foram escritos por Kingsley Amis e Raymond Benson, entre outros. Foi uma fórmula de tanto sucesso que outros autores conseguiram dar continuidade.
Às vezes me pergunto o porquê de tanto sucesso para uns e nenhum para outros. No caso de James Bond, além da fórmula que se adaptava ao pós-guerra e à Guerra Fria, o detetive ainda usava e abusava das engenhocas (gadgets) criadas pela tecnologia, que havia avançado muito durante a guerra. Outro fator foi que quando lançaram o primeiro filme James Bond foi interpretado pelo então semidesconhecido ator escocês Sean Connery. Feito com orçamento pequeno, o filme estourou nas bilheteiras de todo o mundo, transformando Connery num ícone dos anos 1960.
Além do carisma e do charme do personagem principal, havia os mirabolantes vilões, as engenhocas mortais de alta tecnologia, suas canções-tema e as maravilhosas Bond-girls! Tinha que dar certo!
Para quem é escritor, sempre é bom saber um pouco sobre o autor de personagens tão famosos. Ian Fleming era filho da nobreza britânica; estudou no famoso Eton College, cursou a Academia Militar Real de Sandhurst e deixou sua mãe furiosa ao trocá-la por um curso de idiomas nos Alpes sem sequer ter conseguido um mínimo posto de oficial. Não conseguiu ingressar no serviço de estrangeiros e, com 23 anos, não tinha carreira nem perspectivas. Trabalhou como jornalista em Moscou durante quatro anos, e posteriormente como corretor na bolsa de valores de Londres até o ano de 1939.
Durante a segunda guerra mundial, Fleming foi designado ao serviço de inteligência na Marinha britânica e, devido aos seus conhecimentos e facilidade com idiomas, serviu como assistente pessoal do Almirante John H. Godfrey, cujo perfil serviu parcialmente como modelo para o desenvolvimento da personagem “M”, o superior hierárquico de James Bond.
Durante a guerra, Fleming esteve envolvido com magos e astrólogos de peso, como Aleister Crowley, que se infiltravam entre os nazistas, pasmem, implantando informações em documentos secretos, como a falsificação de horóscopos. Fez tudo isso e mais um pouco até que, aos 45 anos de idade, acertou retomando a fórmula policial, agregando as novidades da época e criando James Bond na região do Caribe, mais precisamente na Jamaica, onde Fleming escreveu a maioria dos livros e onde se casou com Lady Ann Rothermere em 1952, filha de Lord Rothermere, proprietário do Daily Mail.
Ian Fleming morreu aos 56 anos, vítima de um ataque cardíaco na manhã de 12 de agosto de 1964, num campo de golfe, no condado de Kent. Seus livros foram traduzidos para muitos idiomas e são vendidos em edições sucessivas em todo o mundo. Os filmes vêm sendo filmados e refilmados! Vários atores já fizeram James Bond no cinema, todos eles com estrondoso sucesso!
Sorte e talento! Até a próxima.

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