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domingo, 14 de agosto de 2011

Damas do crime

Damas do crime

Depois da fantástica dupla Sherlock Holmes e Watson, tivemos alguns outros autores de livros policiais, mas o fato marcante foi a chegada de Agatha Christie, por muito tempo a grande dama no mercado editorial mundial, só vendendo menos do que a Bíblia. Os críticos a crucificavam por ela usar uma única fórmula em suas narrativas. No entanto, é preciso reconhecer que ela usou a “formula” com muita habilidade. Julgamentos à parte, ela ocupa um capítulo especial dentro de uma literatura chamada “de massa”. E, a exemplo do que Conan Doyle fazia muitos anos antes, costuma viciar seus leitores.
Agatha Christie se situa no melhor da tradição inglesa, a das histórias de detetive que usam mais o intelecto do que os punhos. Na sua época, a polícia já contava com a Scotland Yard e diversos recursos para descobrir os criminosos. Os detetives de Agatha Christie investigam casos, baseando-se no profundo conhecimento da alma humana.
Seus detetives são Miss Marple e Hércule Poirot. Eles não têm aquele amigo que os admira e narra os acontecimentos para o leitor. Seus casos se passam sempre na aristocracia inglesa. O ambiente é refinado. O desenlace também é clássico. O detetive reúne os suspeitos e, com lógica implacável, demonstra quem é o assassino.
De nacionalidade belga, Poirot é um personagem extremamente extravagante. Não é nada modesto, e está sempre se gabando da forma como usa as suas “células cinzentas”. Possui um grande e belo bigode que é o que melhor o identifica, e tem sempre uma aparência elegante e impecável. Ele é um grande fã da ordem e do método, daí estar sempre impecavelmente vestido. Em certos momentos, chega a ser rabugento. O personagem apareceu pela primeira vez em 1921, no romance O misterioso caso de Styles.
Ao contrário dos outros grandes detetives da Scotland Yard, Poirot diz que pode resolver um crime estando “apenas sentado na sua poltrona”. Ele compara os seus colegas a “cães de caça humanos”, pois eles usam pequenas pistas no chão, pegadas e impressões digitais como método de trabalho. Além de “pequenas células cinzentas”, Poirot usa como único meio a psicologia humana. Não é um detetive de ação, mas meramente dedutivo, que para resolver seus crimes prefere interrogar todos os envolvidos; porém, muitas vezes, precisa investigar a pedido de seu amigo Hastings, ou por extrema necessidade.
A outra detetive de Agatha Christie é uma mulher. Miss Jane Marple é uma anciã que mora na pequena aldeia inglesa de St. Mary Mead. Aparentemente é uma idosa comum, que se veste sem muita classe e é vista frequentemente tricotando e tirando ervas daninhas de seu jardim. Às vezes, é considerada confusa ou caduca, mas quando passa a resolver mistérios, mostra ter uma mente lógica e afiada, e um conhecimento incomparável da natureza humana com todas suas fraquezas, forças, truques e excentricidades. Sua primeira aparição foi em 1930, no romance Assassinato na Casa do Pastor.
Ao todo, Agatha Christie é autora 66 novelas policiais, 163 histórias curtas, duas autobiografias, vários poemas, e seis romances “não crime” sob o pseudônimo de Mary Westmacott. Pioneira em criar desfechos impressionantes, verdadeiras surpresas para os leitores, seus textos seguem fascinando as novas gerações.
Além de Christie, podemos falar que as damas do crime são basicamente as inglesas P.D.James, Ruth Rendel e Dorothy Sayers e a americana que viveu na Europa, Patricia Highsmith
Como seus detetives, P. D. James criou o comandante Adam Dalgliesh, Ruth Rendel o inspetor Wexford e Dorothy Sayers o Lord Peter Wimsey. A exemplo de Agatha Christie, todas elas criavam tramas em que o cadáver aparecia em locais fechados, em geral localizados em pequenas comunidades e descritos como ecos das clássicas histórias inglesas. Todas mostravam o ambiente refinado da aristocracia inglesa. O desenlace também é clássico, o detetive reunindo os suspeitos e demonstrando quem é o assassino.

Uma grande mudança acontece com Patrícia Highsmith (1921-1995), americana que viveu na Inglaterra e na Suíça. Ela estreou com Pacto Sinistro, que foi filmado por Hitchcock. Das damas do crime, é a que saiu dos padrões clássicos, talvez até por sua sexualidade extravagante para a época: era lésbica declarada.

Em 1955, publicou a primeira história da série Ripley, o anti-herói. Na época, os romances policiais se equilibravam entre o crime e as três decorrências lógicas: a investigação, o criminoso e a solução. O escritor mantinha o foco na investigação. Uma das estratégias da autora para manipular a convenção foi girar o triângulo e centrar a narrativa no criminoso, ao invés de na investigação. Com isso, ela minimiza o suspense; destaca as “motivações” do seu anti-herói e as “consequências” de seus atos.

Bem, aos poucos vamos vendo as mudanças! Até a próxima!

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